Anos se passaram desde a última vez em que ouvi António Sérgio na ondas hertzianas. Ouço neste momento o seu timbre inconfundível na Rádio Comercial - e apenas porque dexei de apanhar a Radar no aparelho aqui de casa -, e entro num devaneio nostálgico. Duas músicas seguidas de Divine Comedy, "Something for the weekend" e o instrumental que se intitula "Theme from Casanova" (não me apetece confirmar no google). O pretensiosimso de Neil Hannon sempre me tocou. Encontro-lhe muitos defeitos, mas por vezes a maior virtude da música é imitar as falhas que a vida tem. A voz de António Sérgio. Vinda de um tempo em que eu ainda achava que uma canção podia salvar a minha vida. XFM. Sinal de reconhecimento da minha geração. E da que a antecedeu, nos anos 80. Não comprei, no entanto, a compilação que saiu o ano passado, aquela que juntava as músicas divulgadas pelo mestre no Som da Frente. Não é a minha história. O Grande Delta, no entanto, formou o meu gosto musical. Das cinco às oito, diariamente. Os Divine Comedy também passaram por lá. E passaram também pelo primeiro festival Super Bock Super Rock, onde Neil Hannon foi apupado e insultado por uma horda de festivaleiros que aguardava a subida ao palco de Faith no More ou Therapy?, não sei bem. A indumentária do compositor pedia este tratamento; calção colonial até ao joelho, camisa a condizer, um ar vagamente efeminado contrastando com a euforia másculo-alcoólica da assistência. Tempo que não se repete, enquanto a cena pop anda entretida com a profusão de bandas pós-punk reproduzindo-se como cogumelos. Não se deve menosprezar a efemeridade da britpop. O elogio da next big thing é uma perigosa armadilha; num piscar de olhos, tudo desvanece.
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