17/06/12

Escolha

No caderno de notas, um número e uma morada. A citação errada. E temos de voltar àquela casa. Não há outra escolha. Não há escolha.

12/06/12

O outro

É mais difícil ao ser humano esclarecer mal entendidos do que provocar a discussão. É a sua natureza: discutir, argumentar, discordar. A identidade humana funda-se na diferença: existimos porque não somos o outro, não somos como o outro.

08/06/12

Insónia

Um insone é um fantasma de passagem pelas horas até adormecer; ou um adormecido sonhando com o fantasma da insónia passada. Tempo fora dos eixos.

01/06/12

O advérbio de modo

Um dos mais extraordinários feitos de Herberto Helder é a capacidade de manusear advérbios de modo delicadamente. Assim, maravilhosamente. O que em qualquer outro autor é uma densa barreira obrigando o leitor a saltar ou a uma volta mais demorada na leitura - palavras longas, longuíssimas, colocando-se a meio da frase, cortando o ritmo, mutilando o andamento da prosa ou do verso - em Herberto é uma catapulta. A sucessão de advérbios de modo empurra-nos para a dimensão oculta do poema, martelando no ouvido a força dos substantivos que precedem o complemento, reforçando o poder do verbo, hiperbolizando-o.
Mas talvez exagere, e o problema simplesmente seja ainda não ter conseguido perceber a poesia do poeta. Talvez. Tão simples.