Quase que nem vale a pena repetir aquele lugar-comum que diz que, de cada vez que revisitamos um filme de que gostámos (ou um livro, ou um disco) encontramos qualquer coisa que nos tinha escapado antes. No caso de "O Padrinho", escapou quase tudo. Vi, portanto, pela primeira vez, como se toda a iconografia pop associada ao filme nunca me tivesse passado pelos olhos; a cabeça do cavalo, os atiradores na portagem, o casamento revelando em cada detalhe o microcosmos onde se movem os gangsters. E Marlon Brando, reinando sobre tudo, sobre todos. A sequência da morte de Don Vito Corleone, a dança da câmara tentando acompanhar cada gesto, cada movimento, cada esgar do rosto do actor, o notado esforço de Copolla, do olho da câmara em busca de um corpo que transcende a personagem que compõe, é um daqueles portentos que nos podem fazer acreditar no poder redentor da arte, e lamento uma vez mais o cliché. Brando improvisa; improvável aposta de probabilidades reduzidas, que apenas um jogador de nível superlativo pode acompanhar. Copolla dança com Brando. Al Pacino - grande actor - parece que também anda por lá. O pau-de-cabeleira excedentário.
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