A morte é o estado que mais se aproxima da iluminação absoluta. Que o diga Groucho, lá da sua tribuna privilegiada observando os que ainda não morreram com a autoridade que tal excelsa altura lhe confere. Pois é, há quem ainda não tenha percebido que isto dos cargos públicos não implica que a maçã acabe por cair de podre por ninguém se ter atrevido a colhê-la; do mesmo modo, quem decide o momento da colheita da maçã? A vox populi, o empregador ou a própria maçã? Caro Groucho, você sabe bem do que fala. A sabedoria distingue-se sempre do conhecimento pelo modo sereno com que é aceite, e os velhos que tem conhecido por aí certamente terão algo a dizer neste sentido. João Bénard da Costa eterniza-se no poleiro? Que seja! O seu imbatível argumento convenceu-me. Não percebo a comichão que alguns sentem ao perceber a vontade que o homem tem de continuar o seu trabalho. Desconfiaria da oportunidade de tal micose se acaso usufruisse do ponto de vista do morto, isto é, do seu ponto de vista, Groucho. Bénard da Costa, a quem devemos o crescimento de um projecto como poucos nesta terra de meias-tintas, oportunidades perdidas e subsídios gastos ao desbarato, merecia mais do que alguns argumentos mal esgalhados e acusações facilmente rebatíveis. Programação conservadora? As folhas da Cinemateca falam por si. Excessivo centralismo na gestão do cargo? Se a tutela se opõe à metodologia, que lhe dê directivas em sentido contrário. Será o único ponto a favor de quem defende a cessação do contrato de Bénard da Costa. Mas é um problema de resolução simples. Quem está num cargo público expõe-se à crítica, e a unanimidade é raramente possível. Mas insistir na questão da idade é pura má-fé. A competência nada tem a ver com idade. E ninguém melhor que um morto para explicar o que isso é.
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