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Espaço sem comparação em Lisboa, a Cinemateca alia restauro, conservação e divulgação da arte cinematográfica (as edições podiam ser modernizadas), contributos fundamentais para a definição de um gosto crítico do cinema.
Mas, antes de mais, é preciso ver e compreender quase tudo, dos clássicos às vanguardas, para se entender, então, que não há lugar para todos. Como qualquer museu, também a Cinemateca possui um depósito que excede em quantidade (esperemos que não em qualidade) o que é trazido a público. É uma situação intransponível porque depende, em parte, das decisões de quem dirige. É certo que muito Raoul Walsh e Max Ophüls passam na cinemateca, em detrimento, por exemplo, do cinema asiático (salvo excepções como Ozu e Kurosawa). Mas, de Lisboa, Crónica Anedótica a Recordações da Casa Amarela, de Fort Apache a Crash , de Lost Highway a Pierrot, le fou , de Deep Throat a Letter from an Unknown Woman, muitos têm lugar nesta casa que, dizem alguns, é conservadora e fossilizada.
Se tudo pode ser visto, nem todos têm lugar: enquanto museu, e não cineclube, cabe-lhe seleccionar e avaliar numa perspectiva meta-histórica. Aproximamo-nos do consenso quando abandonamos o dogma cinematográfico. Mas, para lá do próprio dogma museográfico, o que resta do Museu do Cinema?
[Susana Viegas]
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