Não faltarão vozes a protestar contra a lei em preparação que proíbe o fumo em locais fechados: os lobbies dos restaurantes, os epicuristas renitentes, os conservadores encartados. Eu, que fumo, sinto já a nascer em mim o ex-fumador em que me irei tornar quando a lei for aprovada. Isto não é ironia. Parece que, nos países onde já se instituiu este tipo de leis anti-tabaco, houve um decréscimo significativo do consumo nos meses que se seguiram. Os cidadãos precisam que o estado os obrigue a tomar decisões, que o estado seja a figura parental que a idade adulta furta. Curioso é perceber de onde virá a resistência: da direita fumadora, claro, que o fumador de esquerda é, por princípio e por defeito, tolerante com o outro (e isto sim, é irónico). Talvez o politicamente correcto passe por aqui. Mas o seu contrário, a má-educação de quem se permite atirar o fumo para o vizinho, com petulância e sem gosto, é ainda pior que a mansa tolerância de esquerda. E estou a pensar numa crónica escrita há uns meses por Miguel Sousa Tavares, um panegírico canhestro ao bairro de Campo de Ourique onde ele contava uma história passada num dos cafés do bairro, quando uma tia fumadora insultou alguém que se atreveu a reclamar do fumo da dita senhora. A aristocracia tem destas coisas: ainda não percebeu que, num mundo onde o dinheiro impera, qualquer privilégio de outrora faz figura de letra morta. Ainda bem.
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