27/02/11

25/02/11

Ritmos

Há muitos romances que começam com um ímpeto que se vai esbatendo lentamente, até que comecemos a duvidar da primeira impressão que tivemos. Não sei bem se a razão terá a ver com o investimento que o escritor faz nessas primeiras palavras ou com o entusiasmo de leitor que enfrenta uma nova leitura. Suspeito que será um pouco das duas coisas. Mas poderá haver uma terceira razão: o ritmo de um livro varia, em alguns casos, bastante, e a verdade é que o esmorecimento passadas algumas páginas pode ser passageiro. E quantos são os livros lidos que deixam uma marca indelével como resultado de um final imparável, demolidor? Nenhuma leitura é absoluta, e portanto nenhum juízo crítico deverá ser definitivo. Mas há quem não entenda isso.

23/02/11

Ligações

Também leio Dublinesca esperando encontrar o capítulo recusado a Carlos Vaz Marques por Enrique Vila-Matas para servir de prefácio a Nova Iorque, o livro do irlandês Brendan Behan. O editor Samuel Riba é alcoólico, é-nos dito logo nas primeiras páginas, e Vila-Matas, como explica Vaz Marques na apresentação do livro de Behan, escrevera uma crónica sobre este que queria usar no seu próximo livro, e por isso não a emprestava. E o livro é este. O cruzamento de leituras resulta de um simples acaso. Comecei a ler hoje Vila-Matas porque tinha pela frente uma hora de almoço solitária. Behan anda na minha mochila, e está quase a terminar. Muito ritmo de escrita, vontade de contar histórias, conversas de bêbedos, coloridas descrições das pessoas que passam por Nova Iorque. Nenhum rasgo - mas já me convenci de que por vezes vale a pena ler coisas menores para que o deslumbre da grande literatura seja mais marcante, como um clarão de que ainda se vê um rasto no passado. 

Joyce também há-de morar nesta casa

Há muito tempo - desde Filhos Sem Filhos - que não lia um romance - no sentido mais clássico do termo - de Vila-Matas. É uma obra de ficção, sim; como têm sido os anteriores livros, claro, mas há personagens imaginadas e não simples duplos do escritor, ou, de forma mais rigorosa, duplos do narrador, de qualquer modo quase sempre ele próprio duplo do escritor. O editor Samuel Riba, os pais, oscilando entre simples figuras justificativas e um esquisso de personagem tipo, e Celia, sombra vigilante da premente loucura. Um sopro de novidade, o mesmo prazer na leitura. Darei notícias.

15/02/11

Outro tempo

Romântico

"Eu sou o romântico do tipo que se emociona, mas não chora, com os filmes do Clint Eastwood"
"Ah, os dramalhões como as Pontes de Madison County?"
"Não. Os westerns, os westerns. Nada como um sacrifício para sabermos como é que tudo isto faz sentido."

10/02/11

Regeneração

Na semana em que voltei a ouvir - muitos anos depois - um dos discos mais tocados em 2001, regressa a banda que marcou esse ano e tudo o que se seguiu. Regeneration, dos Divine Comedy, e Strokes. Há ligações que não podem ser ingénuas, acasos que têm de fazer sentido.

09/02/11

Uma memória

Pinheiros, fetos, húmus, a luz aprisionada na vegetação. A memória que foi substituída por esta imagem parece nada ter a ver com a presente: aquela porção de terra era em tempos uma vinha, de um lado, um terreno de cultivo ocupado durante metade do ano por milho e feijoeiros e por pasto durante a outra metade, do outro lado. As vides foram arrancadas ao barro - que tão difícil era de cavar, quando chegava o tempo - e semeou-se pinheiros, plantou-se eucaliptos. Agora é outra terra, uma memória nova. E eu já não tenho a certeza se alguma vez esteve ali uma vinha; milho; terra livre. Não sei se acredito no que agora já não posso fotografar.

Rumor

Admitir

Quando o pessimista diz que há razões para optimismo, é tempo de pensar na ilusão reconfortante do realista. E claro: nunca admitir que se é algum destes.