Confesso que esperava um texto mais certeiro de Vasco Pulido Valente depois do discurso de Cavaco no parlamento. Que VPV não se surpreenda com nada, já sabíamos, mas por favor, exigimos algum entusiasmo nesse tédio militante. A análise das motivações do presidente e a admissão implícita do passageiro triunfo de alguém que, manifestamente, não pertence ao restrito conjunto de simpatias do bilioso comentador parecem-me, sinceramente, redundantes. Não acrescentam nada ao que já foi escrito. Mas o tema já passou à História, de qualquer modo. Dois dias depois, concretizando o que estava implícito no discurso de Cavaco, o governo atira para cima da mesa o que seria inevitável: a reforma da Segurança Social. Note-se que apenas se tornou inevitável a partir do momento em que os comentadores liberais - e são muitos - trouxeram o tema para as colunas dos jornais. A democracia mediática tem esta maravilhosa, perfeita, forma de funcionamento: as prioridades são definidas por uma elite não eleita de opinion makers e grupos de pressão que substitui na função os deputados que passam os dias a fingir que trabalham, quando não aproveitam para rumar em direcção a paragens mais amenas, longe da chatice do trabalho político parlamentar. Mas isto já sou eu com a mania das conspirações. Ninguém se atreverá a falar contra a revolução que se prepara na área das prestações sociais. O sistema acomoda os seus críticos, acolhe-os de braços abertos. Quem protesta no parlamento está, à partida, condenado ao fracasso. É assim a democracia.
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