A unanimidade lusitana em torno do Barcelona de Ronaldinho começa a enjoar. Compreendo a súbita adesão dos três milhões de portugueses que não são do Benfica, ainda que esta se tenha limitado a um arco temporal de duas semanas; no entanto escapa-me a razão da persistência do fenómeno. Olhemos para o jogo de ontem, por exemplo. Uma ressalva, antes de mais: o modo de jogar italiano, espreitando o erro dos adversários, expectante e cínico, está longe de me tocar o coração. Ainda assim, prefiro a eficácia italiana ao jogo feio dos alemães, por exemplo. Compare-se os jogadores mais importantes de um e de outro país para que se perceba do que estou a falar: a Alemanha teve Beckenbauer, Rummenigge, Klinsman, Mathaus e Sammer, e agora parece que tem um dos mais sobrevalorizados jogadores europeus, Michael Ballack; a Itália conseguiu mostrar ao mundo jogadores como Paolo Rossi, Baggio, Mancini, del Piero e os dois melhores defesas dos últimos 20 anos - Baresi e Maldini. O rigor do cattennacio conseguiu sempre guardar um espaço para a criatividade dos génios. Lembre-se apenas que até o melhor jogador de sempre (aquele cujo nome preferimos omitir) passou por Itália.
Mas, adiante. Tendo presente esta desconfiança em relação ao futebol transalpino, quero falar do que se passou ontem, e de como foi injusta a avaliação que a generalidade dos jornalistas fez do jogo. O Milão, surpresa, atacou mais, teve mais posse de bola, circulou bem o esférico, conseguiu, a determinada altura, dar a impressão de que iria dar a volta à eliminatória, e até marcou um golo por Schevchenko - jogador subvalorizado na medida inversamente proporcional à sobrevalorização de Ballack. Costacurta, sobra (como Maldini) da equipa perfeita de Arrigo Sachi, conseguiu secar Eto'o; Ronaldinho, se descontarmos um ou outro momento de assombração na segunda parte (aquele controlo de bola de costas para a baliza e o passe a gazuar a defesa milanesa são apenas um pormenor) pouco se viu (vamos fingir que assim foi). Apenas Iniesta - que ainda não descobriu que pertence a uma linhagem de foras-de-série que passa, inevitavelmente, por Guardiola - e Deco conseguiram sobressair. Como já se tinha visto na eliminatória contra o Benfica, o Barcelona é uma equipa que joga à italiana, funda a sua táctica no pressuposto causal de que o opositor acabará eventualmente por perder a bola. As jogadas mais perigosas surgiram depois de erros do meio-campo do Milão. Aparenta jogar ao ataque, coloca muitos jogadores perto da área adversária, mas defende à maneira de um Liverpool ou de um Chelsea. Porque tem Deco, o médio criativo que mais defende no futebol mundial, e tem avançados que estão sempre disponíveis para o trabalho sujo. Ontem, quando Cafú entrou, Rijkaard não teve vergonha de encostar Eto'o ao lado esquerdo, marcando em cima o brasileiro trintão. Assim se consegue ganhar jogos, principalmente se na frente se tem alguém como Ronaldinho.
Mas, adiante. Tendo presente esta desconfiança em relação ao futebol transalpino, quero falar do que se passou ontem, e de como foi injusta a avaliação que a generalidade dos jornalistas fez do jogo. O Milão, surpresa, atacou mais, teve mais posse de bola, circulou bem o esférico, conseguiu, a determinada altura, dar a impressão de que iria dar a volta à eliminatória, e até marcou um golo por Schevchenko - jogador subvalorizado na medida inversamente proporcional à sobrevalorização de Ballack. Costacurta, sobra (como Maldini) da equipa perfeita de Arrigo Sachi, conseguiu secar Eto'o; Ronaldinho, se descontarmos um ou outro momento de assombração na segunda parte (aquele controlo de bola de costas para a baliza e o passe a gazuar a defesa milanesa são apenas um pormenor) pouco se viu (vamos fingir que assim foi). Apenas Iniesta - que ainda não descobriu que pertence a uma linhagem de foras-de-série que passa, inevitavelmente, por Guardiola - e Deco conseguiram sobressair. Como já se tinha visto na eliminatória contra o Benfica, o Barcelona é uma equipa que joga à italiana, funda a sua táctica no pressuposto causal de que o opositor acabará eventualmente por perder a bola. As jogadas mais perigosas surgiram depois de erros do meio-campo do Milão. Aparenta jogar ao ataque, coloca muitos jogadores perto da área adversária, mas defende à maneira de um Liverpool ou de um Chelsea. Porque tem Deco, o médio criativo que mais defende no futebol mundial, e tem avançados que estão sempre disponíveis para o trabalho sujo. Ontem, quando Cafú entrou, Rijkaard não teve vergonha de encostar Eto'o ao lado esquerdo, marcando em cima o brasileiro trintão. Assim se consegue ganhar jogos, principalmente se na frente se tem alguém como Ronaldinho.
Expliquem-me lá, o golo não foi limpo? E será o Barcelona a melhor equipa da Europa, ou é apenas um excelente golpe de marketing? Depois do falhanço da época passada, há quem esfregue as mãos de contente com a presença da equipa catalã na final. O Arsenal terá sido um percalço, um acidente nas contas de quem manda. Ainda assim, infinitamente melhor que um Monaco, um Porto, ou até, digamos, um Benfica. A alegria da claque barcelonista portuguesa não é, porém, ponto assente. Aquele meio-campo, que apoia o melhor ponta-de-lança do futebol actual (Henry), não é propriamente a intermédia sarrafeira do Benfica, por isso não sei se será desta que Ronaldinho conquista o seu título. Que os deuses estejam do seu lado. E, já agora, também o árbitro.
(A imagem é do melhor jogador do encontro, Costacurta.)
(A imagem é do melhor jogador do encontro, Costacurta.)
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