25/04/09

Sempre

Kelly Reilly

Kelly Reilly deve ter um péssimo agente, julgando pelo trabalho que fez a seguir a Bonecas Russas, de Cédric Kaplish. Como tornar um filme mediano, uma produção tipicamente francesa, bem-comportada, em algo memorável? Convidar esta inglesa de 31 anos para o papel de mulher da vida de um homem - e entenda-se que, neste caso, a expressão se opõe a outra, a mulher dos sonhos de um homem. Reilly não é especialmente bela, não é essencialmente elegante, mas é uma actriz espantosa. De qualquer modo, nenhuma mulher desdenharia ser dona do azul daqueles olhos; e os lábios desenham no rosto qualquer coisa de essencial, inadiável. 
O mérito do filme vai todo para o director de casting que escolheu Reilly para ideal romântico (contrariado, oh ingratidão) de Romain Duris. O seu a seu dono.

Queremos Reilly em Hollywood, rapidamente e em força; Keira Knightley, quem é?


21/04/09

Ballard



O fascínio da criança presa no campo de prisioneiros, durante a Segunda Guerra Mundial, não é muito distinto do desejo de James Ballard quando colocado perante os limites da sua Humanidade. Os dois filmes que adaptaram romances de Ballard, O Império do Sol e Crash (há uma longa-metragem realizada por Solveig Nordlund a partir de um fabuloso conto, Aparelho Voador a Baixa Altitude), evidenciam as semelhanças temáticas da fonte onde bebem e as diferenças que se relacionam com o universo de Spielberg e Cronenberg. A infância como período de descoberta e provação de Spielberg e a idade adulta enquanto tempo de transgressão e derrota; os aviões dos Kamikazes japoneses (a violência espreita) que sobrevoam o miúdo (Christian Bale), prodígio da modernidade, são imagem de uma idade de ouro da tecnologia, quando esta serve o Homem e o deslumbra, produto de uma superior inteligência; por outro lado, as viaturas que espelham o desejo de uma transcendência dos limites do corpo, os carros dançando entre si, chocando, em ambiente urbano, representam o fascínio infantil levado a um extremo hiperrealista. A prótese de Rosanna Arquette, objecto fétiche do olhar extremista de Holly Hunter, é uma hipótese de um ser que ultrapassa os limites do humano; a criança que sonha ver as brilhantes máquinas voadoras (a infância será sempre um sonho, ainda que seja na realidade um duro pesadelo) torna-se um cínico descrente, preso de um desejo que perdeu a sua pureza: a passagem para a idade adulta não será muito mais que isto.

18/04/09

À prova de morte

Contrario Steiner - a ver se acordo o Francisco - e afirmo: temos sempre novos começos. Parece que este blogue entrou em pousio. Que assim seja; apenas lhe dou o que ele pede, e nunca me deixou mal.

(Não sei por que razão agora falo com o blogue; talvez seja por, dizem, ser um diário, ou lá o que é)

Foram-se os links, e o ar continua a ser respirável; dá vontade de colar aqui um vídeo:



Boa noite a todas.

03/04/09

Conversa sobre o tempo

Esta espécie de Inverno dos últimos dias acentua a estranheza de, em Fevereiro, ter ido à praia em preparos quase veraneantes - escrevo quase, por receio da bizarria da situação. As alterações climáticas, um dos mitos fundadores do nosso tempo, nem sempre seguem uma linha sem sobressaltos - o aquecimento global é uma realidade entrecortada por uma ou outra frente polar, inundações extemporâneas e muitos dias de frio inusitado. Mas a verdade é que, de ano para ano, admito a chegada do calor mais cedo. Recordo um dia de Março em que me vesti de manga curta e fui passear para os jardins da Gulbenkian, cheios de gente que esperava há muito um pretexto para faltar às aulas. Muitos anos depois, ao enfrentar o dia de hoje, mais quente do que tem estado, talvez seja tempo de aceitar a variabilidade dentro de certos limites, ciclos que se repetem, padrões que mudam ligeiramente mas que evidenciam o número de vezes que já aconteceram.
A banalidade da conversa sobre o tempo esmorece o meu entusiamo. O espírito precisa de muito pouco para ganhar cores, elevar-se; e chega esta razão para falar disso. Ou então sair à rua e aproveitar a irreversibilidade do ritmo das estações - sem qualquer flutuação ou dela dependendo; não importa.