A festa na aldeia de Hollywood terá lugar hoje à noite, e apetece-me falar de cinema. A festa em Hollywood é hoje à noite e, uma vez mais, não vi mais de metade dos candidatos ao óscar. Não irei assistir à cerimónia pela TVI por duas razões, uma verdadeira e a outra pura invenção: arrepia-me a perspectiva de ver Jon Stewart com um comentador português papagueando por cima das suas tiradas, e amanhã, como qualquer bom suburbano, levanto-me cedo. Houve um tempo em que podia atravessar a noite colado ao televisor, mas nem nessa altura o fiz mais do que duas ou três vezes. Se há coisa de que não abdico é o tempo que passo a dormir. Vou perder alguma coisa importante? Nem se coloca a questão. O que posso ver depois, no compacto do dia seguinte, compensa eventuais perdas. Não ver Jon Stewart em directo, por exemplo (e repito-me). O filme sobre pastores gays irá ganhar? Não me pronuncio. Não vi. O que me suscita alguma preocupação é a insistência da imprensa no epíteto de "filme de cowboys gay" colado à obra. Annie Proulx já explicou numa entrevista, eles apascentam ovelhas. Não vacas. Mas esta moderna invenção, o maravilhoso marketing, dispensa estes pormenores. Há quem queira vender sabonetes, presidentes, outros guerras sob falsos pretextos, e outros ainda querem convencer meio mundo de que o filme é transgressor. Repare-se, a transgressão é vendida bem enfeitada com o slogan da história de amor intemporal. A estratégia não é assim tão discreta. Agrada-se num passo os críticos e contribui-se noutro para o hype, chamando às salas público que de outro modo fugiria a sete pés do filme "gay". A marginalidade entra na corrente de modo imparável. (Os 56 milhões de espectadores provam-no.) Seja como for, Ang Lee é um cineasta estimulante - o filme "A Tempestade de Gelo" foi marcante - e espero ver a fita. Mas o resto pouco tem a ver com cinema. Os filmes que conheço, "Munique" e "Capote" são dois excelentes exemplos de obras oscarizáveis. Ambos esforçados, ambos muito longe do que se pode considerar uma obra-prima. Para acabar de vez com os óscares: em 1958, ano de "A Sede do Mal", "Vertigo" e "Quanto Mais Quente Melhor", três obras que obrigatoriamente farão parte de qualquer lista dos melhores filmes de sempre, ganhou o musical "Gigi", com um recorde de 11 estatuetas. É preciso dizer mais?
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