29/03/06

João Pedro George e a providência acautelada

Quem não venderia a alma ao diabo apenas para ter a carantonha estampada na capa de um jornal de grande circulação? Por exemplo, o 24 horas. Por exemplo, hoje. Ele está lá, no canto inferior direito, menorizado pela imagem maior da escritora pop (nas suas próprias palavras), mas isto é apenas um pormenor. A indignação varre o país, imagino, hoje no comboio uma dona-de-casa comentava mesmo a falta de decência do malvado crítico - essa espécie daninha - que pretende arruinar a carreira da escritora que pôs meio país a ler. Digo, varre o país a revolta das classes culturalmente desfavorecidas que julgavam que era desta que teriam acesso aos escritos determinantes de uma figura da auspiciosa cena crítica nacional, e não é que os sacaninhas da Oficina do Livro chegam e avançam como uma previdência, ou providência, ou lá o que lhe chamam, e zás, corremos o risco de passar ao lado desta oportunidade de ouro, não é justo e direi mesmo aqui d'el rei, ou melhor clamemos pelos ideais da revolução, tão martirizados que eles são, e estamos pr'aí a trinta dias do 25 de Abril, ah, pois é.
Vendem mais jornais, com esta história? Duvido. Vender-se-ão mais livros, depois da poeira se espalhar em redor? Com toda a certeza. A Margarida e o João Pedro aposto que vão esfregar as mãos de contentamento. O que se aproveita, afinal? A qualidade (ou a falta dela) de Margarida já foi há muito tempo provada, agora gostava de saber o que move o crítico? O mérito do seu trabalho académico torna-se nulo se ele insistir na demanda contra a não-literatura. Deixem-nos estar, as Margaridas, os Migueis, os José Rodrigues deste mundo. Há espaço para tudo. Não mexa na lama, pois corre o sério risco de se sujar. Quem se lembra da literatura de cordel de épocas passadas? Valerá a pena a trabalheira que teve? A que custo, com que ganhos?

P.S.: Excelente manobra de marketing do novel editor valter hugo mãe.)
P.S.2: Passatempo interessante: seguir os links da blogosfera sobre o tema, e descobrir quem é amigo de quem nesta história. A partir daqui, por exemplo. Com passagem obrigatória por aqui. E aqui. E aqui. Revelador.

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