Paris, Texas, obra que deu a Wim Wenders a Palma de Ouro em Cannes em 1984, é um filme feito de paisagem. Entre Los Angeles, Big Bend, Houston ou Paris, a paisagem engole o orgânico devolvendo os humanos no seu aspecto mais árido. Harry Dean Stanton, em excelente osmose com a paisagem, é ele também secura e desidratação, é ele próprio um não-lugar humano, uma não-pessoa sem linguagem e sem estrada.
A fotografia de Robby Müller, complementada pela música de Ry Cooder, capta a cor dos exteriores com uma beleza explosiva, oscilando entre o que parece insignificante e o fundamental, conseguindo mesmo encostar as personagens ao limite do enquadramento para destacar, de um modo hiper-realista e sem pudor, desertos e auto-estradas, motéis e comboios de mercadorias, cabines de peepshows e o corredor aéreo de L.A. que ensurdece os subúrbios. Estes tornam-se as verdadeiras personagens deste filme que criou algumas imagens inesquecíveis e que, nas duas décadas seguintes, influenciaram directamente diversos realizadores independentes americanos como Hal Hartley, David Lynch e Gus Van Sant. A única redenção possível desta não-família (Harry Dean Stanton, Nastassja Kinski e Hunter Carson) é filmada por Wim Wenders num cenário frio e despido de referências, no anonimato último que é um quarto de hotel.
Uma bela dedicatória a Lotte H.Eisner, historiadora e crítica incontornável do cinema clássico alemão.
[SV]
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