É um belo filme, O Tempo que Resta, o último de François Ozon. Mas não é, no entanto, um filme perfeito. Encontrei mesmo algumas cenas supérfluas (como o bar S.M.), sem continuidade (de volta ao hospital, Romain conta ao médico os sonhos que tem tido), o encontro abrupto com o casal estéril (cena redimida no encontro a três), mas encontrei também uma belíssima homenagem a Visconti e Morte em Veneza. É, de resto, um tema recorrente no imaginário de Ozon a praia, a beira-mar. De um lugar agradável (recorde-se Conto de Verão, de Rohmer, com um Melvil Poupaud contrastante) passamos, em Ozon, a cenário de perda e de solidão, neste filme como em Sob a Areia.
Mas, a cena que mais comove, tendo em conta que tudo emociona nestes últimos dias, acontece na visita de Romain (Melvil Poupaud) à avó (Jeanne Moreau). Apenas nela Romain encontra a compreensão para suportar os últimos dias. Como é dito: apenas ela está também perto da morte.
Na verdade, a Morte é a grande personagem deste filme. Perante a eminência do desaparecimento, ir ao Japão está fora de questão, há-de morrer sem lá ir porque, nessa espera deixa-se de ter futuro, deixa-se de ter tempo para concretizar sonhos ou conhecer sítios novos. Já não se quer conhecer mais nada senão o que se viveu, as experiências da infância, o melhor tempo de todos (Virginia Woolf: o único tempo onde, sem o sabermos, somos felizes). Sem futuro, resta-lhe o passado, é o passado todo o tempo que resta. Neste sentido, o filme é genial pois dá a ver o que diversos filósofos se esforçaram por ensinar. E é genial porque é perfeitamente proustiano, marcação de uma vida por todo o seu passado. No reflexo do espelho, o que se vê é todo o passado, presente sem futuro, como um passado virtual que coabita pacificamente com o presente actual.
[SV]
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