Fim-de-semana, famílias deprimidas na expectativa para o jogo de logo à tarde, famílias frustradas nos seus intentos de gozar uma semana com dois feriados e dois dias de férias pelo meio, praia e sol, pensavam, moscas amolecidas pelo tempo tristonho, cambaleando de encontro às fitas coloridas que resguardam as entradas das caravanas e das casas de fim-de-semana. O torpor matinal a entrar pelo dia dentro, um café para acordar que não faz efeito, churrasco no intervalo da chuva, cerveja para alegrar o jogo da selecção, simulacro de alegria nacional. A Argentina ganhou 6-0, e sabemos que os podemos encontrar mais para diante, discute-se numa retórica pastosa as minudências do sistema táctico de Scolari, a mulher grita lá de dentro, camisola número 7 cravejada de manchas de gordura da carne esturricando sobre as brasas, a mulher grita, a salada em minúsculas, pouco importante, os miúdos saltam e andam de bicicleta, vão e vêm, param no tempo sabendo que o tempo só os apanha se tiverem à perna o desencanto dos mais velhos, por eles não regressavam a casa, mas a lei circular da vida obriga ao vai-e-vem, regresso a casa, à noite, pai e mãe gritando. Fim-de-semana, famílias disfarçando a tristeza - por isso o fado, exorcismo que amenamente se deixou de celebrar - a certeza dos dias, a passagem dos dias atravessando em movimento cortante os acontecimentos do quotidiano, álcool é esquecimento, concretização de um desígnio de vida. A carne crepita sobre o lume, aproximam-se as duas horas de abandono e desistência, expectativa de abismo ou salvação, a nossa fé depositada na caixa das esmolas para nossa senhora de Caravaggio. Fim-de-semana entalado no coração de um estio sem sol e sem calor. À espera. De quê, quem sabe?
[SL]
[SL]
Sem comentários:
Enviar um comentário