O romance da Fátima Lopes? Amar depois de amar-te? Se é bom, é isso que pergunta? Se dizem que sim, é porque deve ser. Dizem, dizem. Na televisão. Dizem. É giro. O prémio da APE? Tenho de ler, foi premiado. Se recebeu um prémio, é giro. Ainda ontem o Marcelo, no intervalo dos seus pré-claros apontamentos sobre a bola, falava de um livro qualquer de um autor qualquer editado numa editora qualquer. Compramos? Claro. Prémios, felicitações, bicos de pés, luzes pálidas incidindo sobre as letras. Preciso de ajuda. A sério, necessito que me ajudem. Tenham a bondade de me auxiliar. Anseio por consolo e orientação. Penso positivo. Ouço o que os outros ouvem, leio os que os outros lêem, procuro nas livrarias obras com títulos que me puxem para cima, "pense positivo", "ajude-se a si próprio" "compre o meu romance" "polémico", "conspiração templária" "a 4ª cruzada" "delírio na cerimónia de entrega do prémio literário". Gostava que me ajudassem a ouvir a verdade no meio do ruído. Compra. Vai. Pega em mim e leva-me para casa. Acarinha-me com amor, toma conta de mim até adquirires o próximo descartável. A minha opinião? Quer saber qual é a minha opinião? Pergunte-me. Política? Eu percebo. Economia? Sou especialista. Sociologia? Domino na perfeição. Cultura? Ninguém melhor que eu. Arte? Sou eu o entendido. Futebol? Oh, pá, cá estou eu, de dedo no ar. Vida sexual da lesma asiática? E encontra outro conhecedor neste país de gigantones e zé-robertos? Ajudem-me, por favor, que as férias ainda vêm longe. Deixem-me sentir na pele o entusiasmo que há tanto anda afastado de mim, trata-me como se não houvesse amanhã e estivesses presa comigo num elevador parado entre dois andares. Com um livro na mão e uma esponja na outra. Grudada ao metal frio e ao espelho quente. Preciso de ajuda.
[SL]
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