Não gosto de João Ubaldo Ribeiro, desde que li há uns anos uma estopada pornográfica que vendeu em Portugal alguns milhares, em consequência de uma proibição de venda num supermercado por parte de um responsável burro. Gostei de ler a crónica dele (sem link) depois do encontro entre o Brasil e a Croácia, onde desfazia o jogo da selecção canarinha, criticando de modo incisivo Ronaldo e Adriano. Não há como os brasileiros para escrever sobre futebol, está há muito provado - excepcione-se talvez Valdano e Javier Marias. Mas não é este ponto assente que me interessa. Claro que é a selecção portuguesa que tenho na mira. Criticada por meio país desejoso do regresso ao abismo acima do qual pairamos durante algumas semanas, por ter feito melhor que há dois e quatro anos, ter vencido sem brilho. Scolari irritou-se, mas já ninguém liga, Costinha e Figo mostraram que os jogadores estão unidos, apesar das críticas e dos disparos que vêm de fora. (Aquela reportagem na, salvo erro, Visão, com Vítor Baía enrolado na bandeira, alguns dias antes do primeiro jogo, é incrível de tão rasca. Se ainda se precisasse de razões que apoiassem o afastamento da selecção, elas ficaram desfeitas com aquele strip patriótico-pimba.)
A Suécia empatou mas já quase passou, claro, a Inglaterra joga mal mas está nos oitavos, a França parece voltar à mediania de sempre, depois de uma geração (e um jogador, Zidane) excepcional ter irritado le Pen vencendo dois campeonatos internacionais seguidos, a Alemanha joga como sempre, feio, feio, e a Argentina vence com uma péssima segunda parte. Tudo certo, campeonato pouco espectacular? Eu não acho. Já vimos golos muito bons - Lahm, o segundo da Argentina, a passe de Riquelme, até o golo de Figo, e equipas a jogar bem: a Itália e a Holanda, a Espanha, e algumas que perderam, como a Costa do Marfim e a Croácia. E volto ao jogo do Brasil. A selecção foi criticada? Engano, não foi. Foram-no, isso sim, os jogadores que actuaram abaixo do normal: Ronaldo e Adriano. E foi também Parreira por não ter retirado mais cedo da equipa os dois atletas. Apenas isso. Fé na vitória? Toda, bastava passar no Domingo na zona da Expo para perceber isso. Os brasileiros vivem o jogo com alegria; não dependem da vitória para recuperar a economia do país, porque convivem há muito com a pobreza, a corrupção e a sem-vergonhice dos políticos, a criminalidade e as novelas. Os campeonatos que a selecção tem conquistado são pretextos para um mês de esquecimento. Cabeça vazia, cerveja na mão, festejando com a mesma alegria que Ronaldinho mostra só de poder jogar à bola. Em Portugal, não. Futebol é um assunto sério. Os colunistas (os "intelectuais") reclamam por tudo e por nada, exige-se o céu a uma equipa que está a um nível apenas de rés-do-chão, pretende-se que a nossa selecção com duas ou três pseudo-estrelas e um profissional (Figo) muito acima da média - repito, profissional - seja favorita a ultrapassar equipas de semi-deuses como Ronaldinho, Kaká, Thierry Henry, Zidane, Totti, Riquelme ou Messi. Exige-se que os nossos mimados pretendentes, Ronaldo à cabeça, acalmem e se tornem de um momento para o outro jogadores tão bons com Robben ou Fernando Torres ou Rooney. E eles, claro, respondem com nervosismo e carinhas de angústia para a câmara mais próxima.
A Suécia empatou mas já quase passou, claro, a Inglaterra joga mal mas está nos oitavos, a França parece voltar à mediania de sempre, depois de uma geração (e um jogador, Zidane) excepcional ter irritado le Pen vencendo dois campeonatos internacionais seguidos, a Alemanha joga como sempre, feio, feio, e a Argentina vence com uma péssima segunda parte. Tudo certo, campeonato pouco espectacular? Eu não acho. Já vimos golos muito bons - Lahm, o segundo da Argentina, a passe de Riquelme, até o golo de Figo, e equipas a jogar bem: a Itália e a Holanda, a Espanha, e algumas que perderam, como a Costa do Marfim e a Croácia. E volto ao jogo do Brasil. A selecção foi criticada? Engano, não foi. Foram-no, isso sim, os jogadores que actuaram abaixo do normal: Ronaldo e Adriano. E foi também Parreira por não ter retirado mais cedo da equipa os dois atletas. Apenas isso. Fé na vitória? Toda, bastava passar no Domingo na zona da Expo para perceber isso. Os brasileiros vivem o jogo com alegria; não dependem da vitória para recuperar a economia do país, porque convivem há muito com a pobreza, a corrupção e a sem-vergonhice dos políticos, a criminalidade e as novelas. Os campeonatos que a selecção tem conquistado são pretextos para um mês de esquecimento. Cabeça vazia, cerveja na mão, festejando com a mesma alegria que Ronaldinho mostra só de poder jogar à bola. Em Portugal, não. Futebol é um assunto sério. Os colunistas (os "intelectuais") reclamam por tudo e por nada, exige-se o céu a uma equipa que está a um nível apenas de rés-do-chão, pretende-se que a nossa selecção com duas ou três pseudo-estrelas e um profissional (Figo) muito acima da média - repito, profissional - seja favorita a ultrapassar equipas de semi-deuses como Ronaldinho, Kaká, Thierry Henry, Zidane, Totti, Riquelme ou Messi. Exige-se que os nossos mimados pretendentes, Ronaldo à cabeça, acalmem e se tornem de um momento para o outro jogadores tão bons com Robben ou Fernando Torres ou Rooney. E eles, claro, respondem com nervosismo e carinhas de angústia para a câmara mais próxima.
E o pior é que as nossas adeptas não usam a camiseta da selecção colada ao coração, como o fazem as brasileiras. A tristeza que foi ver a mais bela (?) bandeira do mundo, iniciativa idiota, terceiro-mundista, ou pior, de tendência americana (género concurso de enfardamento para entrar no Guiness). Vejo poucas mulheres a apoiar a selecção, e neste confrangedor panorama é natural que sejam poucas as caras que derretem o adepto mais renitente do futebol. O problema é que não há nada que atraia os intelectuais para o futebol em Portugal. Nem decência ao nível dos dirigentes, nem certeza nas exibições, nem beleza em matéria de torcida. Enquanto continuarmos a ser maioritariamente adeptos da sande de courato e da mini isto não arranca. E o país continua a vogar na alta vaga da depressão.
Prognósticos: vamos chegar à final e ganhar 1-0, depois de eliminarmos o Brasil na meia-final com dois golos de Cristiano Ronaldo.
[SL]
Prognósticos: vamos chegar à final e ganhar 1-0, depois de eliminarmos o Brasil na meia-final com dois golos de Cristiano Ronaldo.
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