13/07/06

Syd Barrett (1946-197...)

Quando um morto morre, há qualquer coisa que se quebra em nós. Syd Barrett, que eu já tinha arrumado há uns anos na gaveta dos desaparecidos - isto não é uma metáfora, note-se, pensava eu que ele já tinha morrido mesmo - morreu mesmo. De mundana diabetes, imagine-se. A queda foi maior do que ele esperava, e refreio o impulso de continuar com este reles jogo de palavras. Não posso ficar triste com a notícia. Não se chora alguém que já morreu há trinta anos. A tempo de deixar-nos um pouco do mundo por onde andou a viajar durante aqueles anos perdidos do psicadelismo britânico. Apenas tenho um álbum dos Pink Floyd - Piper at the Gates of Dawn. O que veio a seguir ao abandono de Barrett nunca me interessou. Ao fim de trinta segundos dos Pink Floyd pós-Barrett começo a bocejar. É verdade, lamento. O princípio do "I Wish You Were Here" consegue definir uma banda. Os acordes sonolentos de Dave Gilmour, a voz que antes de começar a cantar já está cansada, a arrastada melancolia de quem vive num tédio imenso e quer transmitir o facto a uma audiência o mais vasta possível. Não quero, lamento. Se preciso de ouvir uma sinfonia, ponho um CD de Mahler a tocar. O culpado disto tudo: não foi Roger Waters, não, nem Dave Gilmour. Foi Syd Barrett. Se o LSD tivesse batido menos forte, se algum comedimento houvesse na sua atitude, teria poupado o mundo - ou a mim, pelo menos - do martelo aborrecido dos Floyd pós-psicadelismo. Será suficiente para definir um génio? Admito que sim. A alucinação não é apenas um estilo de vida; é um atalho para a verdadeira essência da existência. E conseguir colocar em música e/ou palavras os estados alterados a que LSD conduz é qualidade de poucos: Burroughs e Hunter S. Thompson. E Syd Barrett. Uma amostra a tocar ali ao lado, durante os próximos tempos: "Arnold Layne".

[SL]

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