Rui, concordo com o que dizes. De facto, “ser leitor não é fácil” o que não significa conhecer todos os pormenores que fizeram uma vida. Basta conhecer alguns. Para mim, Kafka, ou Nietzsche, ou Kierkegaard são disso exemplo. Tiveram vidas marcadamente literárias com banais profissões ou com uma vida sentimental triste (todos eles tiveram noivados conturbados, interrompidos, impossíveis…) e, por diversos motivos pessoais, foram conduzidos a uma expressão artística maior do que a própria vida. O noivado ou o celibato, por exemplo, são fundamentais nesta relação entre vida, religião, intimidade e literatura: Kierkegaard e o espinho na carne, Kafka e a culpa, Nietzsche e o celibato ou a loucura formam pares vivenciais que se revelam na escrita. E porque escrevem bem, mostram bem a vida que tiveram. Por isto, concordo que “na actividade de leitor, a biografia não só ajuda, é um desafio, e é infinitamente gratificante encontrar os pontos em comum.” Temos uma compreensão completa de Kierkegaard quando sabemos que o autor de O banquete, O diário de um sedutor e Ou...Ou... viveu realmente dividido entre o casamento e o celibato, detalhes que lhe dão credibilidade e justeza de reflexão.
[SV]
[SV]
Sem comentários:
Enviar um comentário