05/07/06

O líder

No jornal leio que Deus está do nosso lado. Passo ao lado do habitual desfile carnavalesco e ao fim do dia leio alguns blogues ao acaso. Não censuro a falta de patriotismo, nem os cucos armados do sentido de humor escabroso e forçado, os evidentes exageros de quem ainda procura um estilo justo para afirmar a escrita. Do mesmo modo não me surpreendo com as garras retrácteis esperando o jogo de mais logo, prontas a saltar ao pescoço da vítima mais fácil. Mas existe, pensando bem, uma espécie de insanidade mansa nas palavras de quem continua a censurar de dedo em riste o percurso da Selecção até à meia-final. Nunca ganhámos nada, mas há quem se atreva a exigir que o façamos com estilo. Com estilo, depois de Scolari ter escolhido um grupo de jogadores que inclui alguns elementos que nem do Brasil C fariam parte. Um grupo que inclui três ou quatro jogadores que se destacam e meia-dúzia que se têm esforçado em campo como nunca. Um grupo de jogadores que é o espelho da mentalidade nacional, fechada e aventurosa, mas incapaz de encontrar o seu próprio rumo e por isso necessitada de uma figura paternal que proteja, acarinhe e transmita motivação e confiança. Orgulhosamente sós, é como os jogadores se devem estar a sentir em Marienfeld. Os que andam há quatro anos a censurar as opções do seleccionador nem se dão conta do bem que lhe fazem ao persistir na perseguição canina em que entretanto se viciaram. Como se não fosse suficiente a ignorância futebolística, mostram também um desconhecimento da História de Portugal mais recente. O modelo Salazar continua bem vivo no espírito de todos. Scolari cavalga a onda.

[SL]

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