Uma das coisas que mais me azucrina em alguma literatura contemporânea é o excessivo name-dropping. O defeito será meu, decerto. Parece que existe uma pós-modernidade que se consola com um sistemático bombardear de referências estéticas, sejam elas de origem erudita ou mais popular. Haruki Murakami, escritor com evidentes méritos, abusa do efeito. Mas isto é literatura pop. As personagens dos seus romances ouvem Miles Davis, Coltrane, Radiohead. Lêem Fitzgerald, Camus, Ibsen. E andam perdidos numa espécie de universo pós-existencialista, onde nem o niilismo é remédio para o sofrimento do mundo. O.K., percebi a mensagem. Mas chega de atirar à cara a cada página a perfeita uncoolness da minha existência. Enrique Vila-Matas é outro exemplo deste nocivo hábito. Falamos de outra divisão, é certo, e nião deixo de achar que o escritor catalão é um dos grandes modernos. Mas as suas últimas obras, "Paris Nunca se Acaba" e "O Mal de Montano", são um fartar vilanagem de citação, evocação e bajulação de tudo quanto é escritor que tenha intervindo na sua formação literária. Descontado o carácter autobiográfico de ambos escritos, assim como a deliciosa ironia aplicada com estilo ao name-dropping, devia ter havido um travão no entusiasmo de Vila-Matas. Contra mim escrevo se admito que a retórica da intertextualidade me aquece o coração. Sinto-me acompanhado de uma multidão de autores lendo apenas um livro, e permito-me sonhar com uma erudição que, na verdade, não possuo. Dou por mim, não raras vezes, sorrindo ao encontrar num autor outros autores de quem eu gosto. Mais reconfortante é, contudo, que um romance me toque sem que grite a plenos pulmões ideias e conceitos. Que fale de modo discreto, baixinho, e consiga provocar o clique do entendimento absoluto e súbito, fenómeno raro de impossível explicação. Tenho em mente alguns autores, Don de Lillo é um deles, Sebald outro. Entre o exército dos silenciosos e o dos terríveis narcisistas da palavra, prefiro sem dúvida o primeiro. Lamento ser o oposto de quem queria ser.
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