23/05/06

O confronto

Algo de estranho se passa neste país quando um debate televisivo é mais emocionante que um jogo da selecção. Outros textos há por aí que dissecam de forma mais certeira o que se passou ontem no prós e contras, vou-me limitar a deixar impresso e espanto perante o sucedido. A selecção sub-21 hoje jogou mal, sem imaginação e com excesso de confiança e foi perfeitamente controlada pela França, grupo com excelentes jogadores e um colectivo afinado. Ontem, Carrilho mostrou as suas razões e foi amplamente derrotado. O problema é que, por muito fundamento que as suas queixas tenham, Carrilho sofre de uma irremediável falta de credibilidade. A sua gesta começa a parecer um trabalho digno de Quixote, e acaba por ser decepcionante que um homem com o passado de Emído Rangel se preste de modo tão lesto ao papel de Sancho Pança. Pacheco Pereira, intratável e um exemplo de bom-senso a toda a prova no meio da vozearia de Fátima Campos Ferreira, conseguiu separar o que parecia inseparável: o homem da sua argumentação. Quase tudo é verdade, quase tudo deixa de ter força por vir de quem vem. Credibilidade, repito. Quem se expõe ao público vive na corda bamba da aceitação. Carrilho, e isto é trágico, não percebe que há muito deu a queda fatal. E o assunto morre por aqui, como também lembrou Pacheco Pereira, sem que seja esclarecido o que devia ser esclarecido. O secreto alívio de alguns apenas aumenta o agastamento. O tema merecia que um outro arauto nele pegasse. Carrilho, nunca.

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