As canções de Paris são, para Christophe Honoré, canções de amor: do amor simples dos casados, ao amor partilhado a três, ao amor homossexual, passando pelo amor fraternal. Elas conduzem o filme, revelam segredos e expõem a intimidade de Ismaël Bénoliel (Louis Garrel) e restantes companheiros musicais. Mas este Louis Garrel, que ouvi dizer, tem semelhanças interpretativas com Jean-Pierre Léaud [o mais certo é serem referências ao próprio cinema francês] afirmando-se mesmo o paralelismo entre a relação de Honoré e Garrel com a de Jean-Pierre Láud com François Truffaut, mais parece uma versão francesa-musical-gay de Buster Keaton. Houvesse a possibilidade de Keaton se apaixonar em Paris e ele poderia ser Ismaël. Louis Garrel tem o olhar triste, a boca sisuda, o andar feminino que caracterizam a fisionomia de Keaton, não esquecendo a magnífica capacidade pantomima deste. Esta semelhança é visível, não só nas sequências mais divertidas de As canções de amor (quando Louis Garrel nos conduz a um ambiente de espectáculo caseiro que até parece estar fora do registo das filmagens do filme), sequências dignas do cinema mudo de Keaton onde a seriedade facial contradiz com o burlesco dos gestos, como também na corporalidade do actor, gestos efeminados e esquivos fugindo à constante solicitação sexual. Christophe Honoré, a meu ver, destaca-se mais na narrativa, no desenvolvimento sempre inesperado e, por isso, fugindo aos clichés do romance contemporâneo, dos amores loucos de Ismaël, Julie, Alice e Gwendal, do que na linguagem cinematográfica. Nem sempre os recursos cinematográficos são os melhores. Alguns planos não têm o melhor enquadramento e, por isso, não se sucedem harmoniosamente, a profundidade nas cenas nocturnas também é inexistente, bem como um aspecto curioso: as pessoas olham e enfrentam a câmara e os actores nas filmagens de rua. As canções de amor é um filme que se alimenta da sombra de imagens icónicas do cinema francês mas que vale a pena pelas intensidade eróticas que percorrem Garrel.
[Susana Viegas]
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