Há sempre a velha questão da morte. Lessing nasceu em 1919. Não arrisco nada se disser que o prémio foi atribuído antes que. É claro que seria uma tragédia se, por exemplo, Philip Roth desaparecesse durante o próximo ano. Borges passou incólume pelo mundo, e nem a velhice o resgatou à casmurrice dos membros da academia (alimentada por uma viagem turística extemporânea ao Chile). Ele ainda continua por cá - e não há-de tardar até vermos um conto dele adaptado a filme (se até Saramago...). Não há, é claro, critérios límpidos - e demasiadas vezes há razões políticas. Culpar quem? O comité, composto de vinte nórdicos que ninguém conhece, que tiveram como antecessores gente que andou durante décadas a dar prémios a pouco ilustres autores escandinavos, desconhecidos no resto do mundo, num tempo em que, imagino, a maior parte dos bons escritores não estava disponível em sueco? E depois, as questões políticas, humanitárias. Não digam que é um prémio de literatura, por favor. Lessing nasceu na Pérsia (que agora se chama Irão) e viveu na Rodésia (agora Zimbabué). Feminista. Marxista. O fardo do homem branco. Nobel de quê?
[Sérgio Lavos]
1 comentário:
Todos os prémios, incluindo o Nobel, são coisa pouca na história do génio criativo, na literatura, nas artes, nas ciências. Quantos génios da literatura foram reconhecidos pelos poderes premiadores? Quantos o não foram?
O Sérgio tem razão quanto a critérios políticos na escolha dos Nobel. Poderes e contra-poderes em jogos de reconhecimento e prestígio internacionais.
Alguns escritores recusariam o Nobel, mas a esses só por distracção o Nobel lhes será atribuído, para evitar dissabores. Outros vivem ou viveram prestigiados justamente pela rejeição de honrarias e frivolidades. Para os que receberam o prémio de bom grado, há que saber se o Nobel foi incentivo ou travão.
Quando Saramago ganhou o Nobel, eu que não aprecio especialmente este escritor, senti que a língua portuguesa tinha sido tardiamente reconhecida. E pouco mais que isso.
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