Por muito neutro que um blogue seja (neutro no sentido de revelar o que o autor é, o que sente), acaba sempre por não o ser, é sempre um espelho que, mais ou menos limpidamente, reflecte o momento em que o texto é escrito. Pode não parecer, mas há coisas mais óbvias do que esta.
Falar do óbvio é sempre estimulante para quem lê. E quem lê blogues são principalmente bloggers. Esta raça gosta tanto de escrever sobre si própria como de ler o que os outros escrevem sobre ela. Escrever sobre o óbvio. É claro que nem sempre o óbvio é visível. Precisamos que alguém o torne. Sopre o pó. Limpe o espelho (depois de um belo e prolongado banho de imersão). Quando lemos essas evidências, rejubilamos. O reconhecimento do outro. Saber que o isolamento a que estamos submetidos é partilhável.
Mais fácil do que escrever sobre a realidade que nos atormenta é descrever o processo de escape que usamos para fintar essa realidade. Um texto intimista é sempre ficcional, outra evidência. Mas os jogos linguísticos são infinitamente ricos. Alimentam-nos até à exaustão, são gordura para um obeso ou açúcar para um diabético (têm tanto de desejo como de prejuízo). Enrodilhar a língua nela própria, emboscar o sentido das frases.
Saber que alguém escreveu não sei quantas vezes antes isto mesmo que escrevo agora. Um blogue não é neutro, nem quando se limita a reproduzir uma notícia, a linkar um texto. Há originalidade num link? Há sempre subjectividade, e um texto que não tem consciência de si próprio não merece continuar a ser lido.
(Agora concluo generalizando.)
O que é um texto neutro? Sentados na cadeira que nos foi indicada, escrevemos para uma plateia que espera aprender com a evidência das nossas palavras. De que serve então negar o absolutismo da linguagem, a sua concreta subjectividade?
Falar do óbvio é sempre estimulante para quem lê. E quem lê blogues são principalmente bloggers. Esta raça gosta tanto de escrever sobre si própria como de ler o que os outros escrevem sobre ela. Escrever sobre o óbvio. É claro que nem sempre o óbvio é visível. Precisamos que alguém o torne. Sopre o pó. Limpe o espelho (depois de um belo e prolongado banho de imersão). Quando lemos essas evidências, rejubilamos. O reconhecimento do outro. Saber que o isolamento a que estamos submetidos é partilhável.
Mais fácil do que escrever sobre a realidade que nos atormenta é descrever o processo de escape que usamos para fintar essa realidade. Um texto intimista é sempre ficcional, outra evidência. Mas os jogos linguísticos são infinitamente ricos. Alimentam-nos até à exaustão, são gordura para um obeso ou açúcar para um diabético (têm tanto de desejo como de prejuízo). Enrodilhar a língua nela própria, emboscar o sentido das frases.
Saber que alguém escreveu não sei quantas vezes antes isto mesmo que escrevo agora. Um blogue não é neutro, nem quando se limita a reproduzir uma notícia, a linkar um texto. Há originalidade num link? Há sempre subjectividade, e um texto que não tem consciência de si próprio não merece continuar a ser lido.
(Agora concluo generalizando.)
O que é um texto neutro? Sentados na cadeira que nos foi indicada, escrevemos para uma plateia que espera aprender com a evidência das nossas palavras. De que serve então negar o absolutismo da linguagem, a sua concreta subjectividade?
[Sérgio Lavos]
4 comentários:
que belo texto. a ideia que encerra, penso-aa toda a hora. :)
O único texto neutro que conheço é aquele em que se apregoa a nunca neutral posição de um texto. Blogs, idem
saturnine: não serias blogger se não fosse assim ;)
bem verdade, Sérgio. :) (atá acho que deveria ser criada a categoria deblogger profissional. eheheh)
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