Um recente passeio pelo norte do Alentejo levou-nos a Elvas guiados pela curiosidade em ver a colecção de António Cachola no MACE que desde Maio ocupa o espaço da Misericórdia de Elvas. Depressa a vontade esmoreceu: ao contrário do que indicava o site do museu, a exposição encerrava às 18h e não às 20h, contratempo que nos permitia cerca de 1 minuto para circularmos pelas salas. Explicada a obtenção de informação desactualizada no site (era Domingo e a alteração vinha de 4ª feira...) e graças à boa vontade dos funcionários, foi possível fazer uma visita relâmpago à exposição. Olhando para o conjunto de artistas, reparo que metade estão ausentes, talvez emprestados a outros museus ou exposições, talvez guardados à espera da sua vez.
Fez-se notar a ausência de algumas obras, nomeadamente, A Noiva, de Joana Vasconcelos, que rumara para Nova Iorque. No entanto, era forte a sua ausência na sala do Consistório onde se via ainda o grampo deixado no tecto. Este facto revela-se positivo: ainda assim, a sua ausência permitiu imaginar o contraste interessante que terá havido entre A Noiva, lustre feito de tampões OB, e os azulejos azuis e brancos da 1ª metade do séc. XVIII que cobrem as paredes da sala, e questionar, não só o valor das obras da arte contemporânea, mas os elevados níveis de sucesso que alguns artistas portugueses alcançam e que, parece, se multiplicam por todas as bienais e exposições. Este é, aliás, um problema clássico neste tipo de colecções exclusivas de arte contemporânea. Como o tempo é bom conselheiro, só a sua passagem irá permitir a imprescindível sedimentação dos objectos expostos, distinguindo o objecto decorativo, por vezes um produto fraudulento do marketing, das obras de arte, as que sobrevivem ao nome do artista, como testemunho da própria função educativa dos museus, salvaguardando o acumular de tralha.
[Susana Viegas]
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