27/08/07

O escritor (2)

Robert Wilson acaba por confirmar o cliché que repete: não há como o olhar do estrangeiro para perceber o que somos. Não sei bem o que é o orgulho pátrio. Mas se aquela pontinha de emoção que se sente ao ouvir um estrangeiro descrever na perfeição os cambiantes da nossa alma se aproxima da definição de um orgulho qualquer, então devo senti-lo. O carácter reservado, desconfiado ao primeiro contacto, que esconde um coração necessitado de tempo para se revelar, para se abrir ao outro. Isto e a verdade que tantas vezes esquecemos: somos um povo pacífico; evitámos tantas vezes a guerra dentro de fronteiras que muitas vezes parece que subterraneamente desejamos essa zona de ruptura. Uma tensão que se dirige a nós próprios, conduzindo à tipicamente portuguesa autodepreciação patológica. Preferimos a desobediência ao conflito. A interiorização da violência a actos disruptores. Há quem considere estas características defeitos. Não pode haver moral na História. Mas prefiro a moral à História. Sou português, de facto.

[Sérgio Lavos]

2 comentários:

Anónimo disse...

Igualmente fica no ar um certo paradoxo: se bem me recordo, afirmou que só sairia do Interior quando envelhecesse. A ironia é que o Interior está cada vez mais envelhecido e os pobres coitados de lá não saem. Isto sim, isto obrigou-me a reflectir até adormecer...

Sérgio Lavos disse...

Os velhos ficam no interior porque não podem de lá sair. Ele pode. escolheu o isolamento. Eles estão condenados a isso. Também achei um estranho paradoxo.