09/08/07

Lugares

Será sempre necessário voltar a terra para se perceber a verdadeira alma dos lugares. Andar a pé. Apanhar um comboio e sair para fora da cidade. Sentado, e em movimento, a paisagem corre em direcção a sítio nenhum. A milhares de quilómetros de distância dos nossos dias comuns, visitamos as mesmas casas, desfilando, os mesmos ermos entre prédios, vazios, rios esquecidos da sua função inicial, pontes de cimento ligando os homens, fios eléctricos acompanhando a correria das cidades suburbanas, das aldeias perdidas, de tanto em tanto tempo unindo-se a postes, os eléctrodos tremeluzindo no fim de tarde, manchas difusas contra o reflexo na janela, guindastes sobrevoando as ruínas, alicerces de casas por construir, confusão de homens abrigando-se da chuva, alpendres improvisados, a água caindo molemente no zinco, fumo entre cansaço, o ruído de um camião sobrepondo-se ao matraquear surdo do comboio, a paragem, pessoas descem, pessoas sobem, a carruagem pára no lugar, o tempo continua a correr, o movimento impele a carruagem , o tempo desfaz-se lá fora. Lugares por dentro de lugares, a familiaridade, a repetição da mesma vida noutro espaço.

[Sérgio Lavos]

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