Em Barcelona, não é fácil encontrar o escritor catalão mais conhecido em Portugal, Enrique Vila-Matas. Percorri várias livrarias e apenas encontrei cinco títulos na Fnac. Talvez pelo facto de ele escrever em castelhano - nestas coisas do nacionalismo, é difícil para um escritor que traia a língua obter o reconhecimento devido. Ou então por cá temos uma ideia distorcida do valor de Vila-Matas. Para isto muito contribui o marketing que a Teorema fez quando adquiriu os direitos de Vila-Matas para os últimos três livros ("Paris Nunca se Acaba", "O Mal de Montano" e "Doutor Pasavento"), principalmente junto dos suplementos literários dos jornais. A verdade é que, não sendo um autor fácil, Vila-Matas vende mais do que muitos com mais notoriedade em Espanha, como Juan José Millas ou Espido Freire, dois exemplos apenas.
Trouxe então de volta dois que ainda não li dele, "El Viaje Vertical" e "Extraña Forma de Vida", e acabei por fazer um bom negócio: o primeiro custou 14.25 euros e o segundo 9.13. A literatura não se pode medir pelo que custa, é verdade, mas também é verdade que as editoras portuguesas gostam de se fazer pagar caro. Os mesmos livros, editados pela Assírio & Alvim, custam 15.50 e 11.50, respectivamente. E, além disso, apenas se podem encontrar neste momento à venda em pack, junto com outros dois livros do autor. Se formos por este caminho, percebemos o exagero que é vender um romance de 300 páginas por 25.20 euros, como é o caso de "Doutor Pasavento", que no original custa 19.00 euros. A Teorema, de resto, tem vindo a especializar-se em fazer livros com caracteres tipográficos de tamanho garrafal, papel de fraca qualidade e preço pouco condizente com a qualidade final do produto oferecido, defeitos que menorizam o quase intocável critério editorial. Recordo, para confirmar esta ideia, a péssima edição que está a ser feita da obra de W. G. Sebald, com traduções sofríveis e uma pobre qualidade de impressão das imagens que acompanham o texto. Tudo excelentes razões para ter comprado as edições inglesas (de resto, revistas pelo autor alemão) e ter deixado de parte ao fim de 15 páginas o "Austerlitz" editado pela Teorema. E muitos potenciais leitores também o terão feito. Será assim tão difícil perceber as consequências destas autênticas fraudes editoriais?
Este hábito de encarecer os livros não se explica apenas pela reduzida dimensão do mercado português, em que a maior parte dos títulos não chega a vender o suficiente para pagar a edição. Padecer de vistas curtas é o mínimo de que se pode acusar muitos editores portugueses. Porque editar, como o fez a Europa-América há uns anos, um livro como "A Companhia", de Robert Littel, em capa mole, por 35 euros, o preço de um álbum, é um convite ao desastre, a que se vendam 100 ou 200 exemplares apenas e que o resto da edição fique para sempre a ganhar pó nos armazéns. E falamos de um livro de espionagem, sobre a CIA, que deveria ter um potencial de vendas razoável. Exemplos como este abundam - não se percebe, por exemplo, como ainda temos de pagar 26 euros por uma recente edição de bolso em 2 volumes do D. Quixote ou 14 euros por uma tradução da Odisseia, também de bolso, quando em espanhol e em inglês estes clássicos e todos os outros (aos quais, recorde-se, não são devidos direitos de autor) se encontram disponíveis em excelentes edições, a todos os níveis, e a um preço muito mais acessível.
Há poucos editores portugueses que sejam excepção a este estado de coisas. E depois vem o costumeiro discurso do coitadinho - mesmo quando a Feira do Livro é um sucesso, como aconteceu este ano. Haverá maneira de alguma coisa mudar, com estas novas tendências concentracionárias do mercado?
Trouxe então de volta dois que ainda não li dele, "El Viaje Vertical" e "Extraña Forma de Vida", e acabei por fazer um bom negócio: o primeiro custou 14.25 euros e o segundo 9.13. A literatura não se pode medir pelo que custa, é verdade, mas também é verdade que as editoras portuguesas gostam de se fazer pagar caro. Os mesmos livros, editados pela Assírio & Alvim, custam 15.50 e 11.50, respectivamente. E, além disso, apenas se podem encontrar neste momento à venda em pack, junto com outros dois livros do autor. Se formos por este caminho, percebemos o exagero que é vender um romance de 300 páginas por 25.20 euros, como é o caso de "Doutor Pasavento", que no original custa 19.00 euros. A Teorema, de resto, tem vindo a especializar-se em fazer livros com caracteres tipográficos de tamanho garrafal, papel de fraca qualidade e preço pouco condizente com a qualidade final do produto oferecido, defeitos que menorizam o quase intocável critério editorial. Recordo, para confirmar esta ideia, a péssima edição que está a ser feita da obra de W. G. Sebald, com traduções sofríveis e uma pobre qualidade de impressão das imagens que acompanham o texto. Tudo excelentes razões para ter comprado as edições inglesas (de resto, revistas pelo autor alemão) e ter deixado de parte ao fim de 15 páginas o "Austerlitz" editado pela Teorema. E muitos potenciais leitores também o terão feito. Será assim tão difícil perceber as consequências destas autênticas fraudes editoriais?
Este hábito de encarecer os livros não se explica apenas pela reduzida dimensão do mercado português, em que a maior parte dos títulos não chega a vender o suficiente para pagar a edição. Padecer de vistas curtas é o mínimo de que se pode acusar muitos editores portugueses. Porque editar, como o fez a Europa-América há uns anos, um livro como "A Companhia", de Robert Littel, em capa mole, por 35 euros, o preço de um álbum, é um convite ao desastre, a que se vendam 100 ou 200 exemplares apenas e que o resto da edição fique para sempre a ganhar pó nos armazéns. E falamos de um livro de espionagem, sobre a CIA, que deveria ter um potencial de vendas razoável. Exemplos como este abundam - não se percebe, por exemplo, como ainda temos de pagar 26 euros por uma recente edição de bolso em 2 volumes do D. Quixote ou 14 euros por uma tradução da Odisseia, também de bolso, quando em espanhol e em inglês estes clássicos e todos os outros (aos quais, recorde-se, não são devidos direitos de autor) se encontram disponíveis em excelentes edições, a todos os níveis, e a um preço muito mais acessível.
Há poucos editores portugueses que sejam excepção a este estado de coisas. E depois vem o costumeiro discurso do coitadinho - mesmo quando a Feira do Livro é um sucesso, como aconteceu este ano. Haverá maneira de alguma coisa mudar, com estas novas tendências concentracionárias do mercado?
[Sérgio Lavos]
4 comentários:
encontrei Vila-Matas na Fnac do Triangle e numa livraria perto da Carre de Boqueria, no Bairro Gótico.
Não sei se é difícil achar Vila-Matas em Barcelona. A livraria tinha alguns. Mas achei difícil encontrá-lo na Fnac, onde só vi 2 livros dele.
De qq maneira, nenhum dos que trouxe ultrapassou os 10€
O Doctor Pasavento já o encomendei pela Fnac de cá :)
E o pack saía mais barato do que esses dois livros juntos ;)
Gosto MUITO de Vila-Matas :)
ps - vila-matas e national misturados ehehehe
muito bom! ;)
um mercado de torturas.
entrou-se definitivamente na era do livro-detergente e o espaço para os marginais é mais pequeno do que um t0 em alfama. leia-se marginais como alguém que edita a decência, o triunfo não lhes cabe, tal como noutras esferas, a mesma tv que teve o nemésio, o vasco granja, até o inteligente padre carreira das neves, gasta as aberturas do telejornal com a menina quiçá feita hambúrguer, o que dizer também das editoras discográficas e suas boys/girls/whatever bands, do espaço para o cinema em que não rebentam bombas, da tabloidização da imprensa. a língua como trincheira é capaz de não chegar. mas tenta-se, que diabo.
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