16/08/07

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A principal crítica que se tem ouvido a quem não gostou de "À Prova de Morte", é a de que, para além da perfeição formal, dos diálogos brilhantes, do ritmo infernal, da cena de perseguição de carros mais cool desde "Bullitt", do jogo de citações e de paródia pós-moderna, da desconstrução de um certo feminismo e de um certo machismo, da respiração livre de qualquer pressão comercial (falo do tempo langoroso que se perde com aparentes frivolidades femininas, ou da duração da cena de sedução manhosa com pizza e gordura nos lábios de Kurt Russell, cicatriz e tudo), e do ar blasé, de quem domina perfeitamente o que faz e que se dá ao luxo de fazer o que quer, sem dever nada a produtores ou às expectativas do público (houve alguém que sugeriu, imagine-se, que o que move Tarantino é o impulso comercial; logo ele, depois de três relativos flops seguidos - os "Kill Bill" e este), escrevia eu que, para além de tudo isto, há quem critique o filme por ser vazio de conteúdo. O que é um filme? Respondam-me, será mais do que um conjunto, quase perfeito, de imagens?

[Sérgio Lavos]

2 comentários:

Luís Daehnhardt disse...

Está novamente lançada a discussão do conteúdo versus forma. Provavelmente o que acontece é procurarmos conteúdo em algo que nos é externo, para preencher o vazio que muitas vezes a nossa vida é. Mas, se esta é cheia, se temos riqueza interior suficiente (e não há aqui nada de esoterismos...), basta-nos um «conjunto, quase perfeito, de imagens»...

Anónimo disse...

Não sei, Luca, se não é mesmo isso que escreves. Mas passa um pouco por aí, a distinção entre forma e conteúdo. Apenas se consegue encontrar aquilo que já está dentro de nós. (o meu momento zen do dia)