20/08/07

Terapia Metatísica

Para desenjoar de assuntos tão sérios (ah!), gostaria de chamar atenção para o blogue Terapia Metatísica, que é do melhor que tenho lido nos últimos tempos. É tão bom, tão bom, que vou fazer um pujante (e pungente) copy/paste de dois textos (2) que desfizeram muitas dúvidas existenciais que me atormentavam (ainda não tiveram vontade de clicar no blogue? o que espereis?) e outras menos existenciais que me divertiam nas horas livres de tormenta - fazendo imitações do Mendes Bota botando discurso sobre o mirrado Marques Mendes - e isto não é uma reles piada sobre os atributos físicos do homem. Ei-los:

A filosofia de Wittgenstein é a filosofia do silêncio para além da matemática. Dizem que a filosofia de Wittgenstein é terapêutica e eu percebo isso; dizem-no porque a terapia se aplica, em regra, depois da doença, e toda a filosofia antes de Wittgenstein é patológica, afectada, irresoluta, falsamente modesta, envenenada e excessivamente palavrosa. Acredito, porém, que devia encarar-se a filosofia de Wittgenstein como uma filosofia preventiva - previne o homem de ser homem em excesso. O super-homem, por exemplo, é o homem (ou o deus) da sede e da insatisfação, é o homem por excelência que só tem um atributo: estar vivo. O homem-silêncio de Wittgenstein é que é um novo homem: inquieto mas discreto na sua inquietude, o homem que, como eu o imagino, só se revela na cama e na filosofia.

Não chega? Tomai outro, então:

Literatura

O que nós queremos do amor e o que os outros querem do nosso amor é que ele nos agarre pela mão e nos diga: «Anda, eu sou a solução para todos os teus problemas.» Quando nos dirigimos a um amigo ou a alguém da nossa confiança e dizemos «Estou apaixonado.» - assim, tão afirmativamente -, não é comum que nos perguntem o essencial sobre o nosso amor. Perguntam-nos que coisas faz na vida, se é bonito, se é um bom partido, se é bom na cama, que idade tem, se já coleccionou outras pessoas antes de entrarmos na sua caderneta ou, em última análise, se gostamos dele - a pergunta que fazem sempre os amigos mais verdadeiros. Nunca nos perguntam: «E ouve lá, isso é publicável?», que é o mesmo que perguntar se o nosso amor tem literatura suficiente para chegar a ser livro. Não me parece que «Sim.» seja a resposta ideal. Raramente a literatura tem algo de insondável e, mais importante do que isto, aquilo que há de insondável na literatura compete com a nossa vontade de a explicarmos. O verdadeiro amor é, pois, aquele que não é publicável, que não é amor-narrativa, o amor sem espaço, sem tempo, sem demasiada acção ou demasiado enredo. É, quem sabe, o amor que, quando acaba, não nos deixa nada para além dele mesmo, ou seja, é o amor que não acaba.

E depois façam-me o favor de linkar o blogue ou guardá-lo nos favoritos do browser ou copiar tudo muito bem copiadinho para uma sebenta (um moleskine é que não - visitem o blogue para saber porquê).

E chega. Ou queriam também, para cúmulo, uma cura definitiva para a caspa?

[Sérgio Lavos]

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