Tinha passado despercebido, e nem sei se é uma reposição, mas é uma excelente ideia o canal 2 ter decidido produzir uma série de entrevistas a escritores estrangeiros que vivem em Portugal. Hoje foi a vez de Robert Wilson. O tema da conversa seria a sua visão do país, mas acabou por desembocar aqui e ali numa reflexão sobre a escrita e os seus processos. De uma forma desarmante, o escritor revela o percurso que cada livro tomou até chegar ao leitor. A saborosa (ainda que algo paternalista) história do caseiro que julga que Wilson fabricou o livro, o objecto livro, e não o escreveu apenas, complementou a ideia que Wilson tentou fazer passar nesta passagem da conversa: a de que escreve para entreter, e tenta fazê-lo o melhor possível. O que contraria o que pensa a maior parte dos escritores portugueses. A literatura enquanto produção, sem qualquer carga metafísica ou religiosa. Por cá, a ideia romântica do escritor enquanto figura inspirada por Deus demora a desaparecer. O sofrimento, a inspiração, o acto divino - a Obra nasce. O escritor inglês conta as histórias verdadeiras que respiram por baixo da pele ficcional que ele tece. Sabemos tudo? Quase nada. O suficiente.
[Sérgio Lavos]
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