O que resta de humano na humanidade? A pergunta feita por Cormac McCarthy em "The Road" (publicado em português na Relógio d'Água) pretende ter uma resposta. É esse o maior fracasso do livro. Uma abstração sobre os limites num mundo que já não os pode ter - depois do apocalipse, pai e filho (como no filme homónimo de Sokurov, e isto não é apenas coincidência) percorrendo uma estrada que o pai assegura ter fim. O filho acredita. É isso que o anima, é isso que mantém pai e filho à tona. Compreende-se o sentimentalismo árido de McCarthy (o livro é dedicado ao filho mais novo) - e neste aspecto discordo desta recensão de Janet Maslin. Pensando de um modo frio, em termos de puro egoísmo genético, o pai pretende que o filho lhe sobreviva, num mundo em que a luta pela sobrevivência levou a um retrocesso civilizacional que conduziu os poucos Homens que restam à desumanização absoluta. Será possível manter a razão num mundo onde o instinto domina? McCarthy acha que sim. Já o li em condições mais calorosas e simultaneamente mais brutais (talvez aprecie contrastes a preto e branco, fraqueza minha), em "Belos Cavalos". Mas o domínio da língua é irrepreensível. É muito. O suficiente.
[Sérgio Lavos]
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