09/08/07

Cidades

As cidades, nenhuma é igual; associamos a paisagem urbana a estados de espírito e depois estes estados de espírito a estações do ano ou a sensações físicas. Dizemos: a alegria das ruas, como se fosse sempre verão; ou a taciturnidade de certa marginal ao fim da tarde, entre o regresso a casa e a preparação para a noite. Quando visitamos uma cidade pela primeira vez, deixamos que o estranhamento se prolongue durante toda a viagem: queremos ficar deslumbrados pela diferença. Por isso se diz que quem viaja foge apenas de si próprio. Duvido que o turista moderno medite nisto ao folhear panfletos de agências turísticas ou ao marcar, com a urgência dos dias entre feriados e fins-de-semana, o resort apropriado para umas férias descansadas. É difícil escapar a isto, impossível fugir à globalização do lazer e do turismo. O estado de espírito é tão raro ser atingido, exige tal esforço de vontade, que arriscamo-nos a passar os dias deslumbrados pelo olhar dos outros.
O objectivo: encontrar nas cidades uma originalidade que seja, algo que julguemos apenas nosso. A ilusão do carácter único do olhar.

[Sérgio Lavos]

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