Uma das coisas que funcionam melhor em Espanha é o mercado editorial. Desde a disponiblidade de traduções em todas áreas - as incríveis lacunas que existem em Portugal ao nível da edição, principalmente na área das ciências sociais, são de Terceiro Mundo e têm tendência para se agravar, com editoras como a D. Quixote ou a Asa a deixarem de reeditar livros por razões apenas comerciais (achar que qualquer best-seller americano desconhecido, muitas vezes comprado a peso de ouro, é mais facilmente vendável que um long-seller para um público esclarecido é pura e simplesmente burrice) - até à aposta séria nas edições de bolso, o leitor espanhol está sempre bem servido na sua língua. Talvez por esta razão a Fnac de Barcelona tenha uma oferta limitada de livros na língua original (francês ou inglês), em comparação com as suas congéneres portuguesas.
Não adianta especular sobre o dislate de José Saramago acerca do iberismo - o homem tem todas as razões para querer ser espanhol. Dá para ver que do outro lado da fronteira Saramago é quase um autor espanhol. Em todos os escaparates das livrarias espanholas se encontra pelo menos o último livro dele, "As Pequenas Memórias", que já saiu quase há um ano; e o resto da obra também se encontra facilmente. Mais facilmente do que em muitas livrarias portuguesas, de resto. O prémio Nobel, deve-se, em grande parte, à projecção que ele começou a ter nos países de língua espanhola - e falamos de um mercado de algumas centenas de milhão. Além disso, tem de agradecer a Espanha a maior das oferendas - encontrar o amor no último terço de vida; para um escritor, não é, de modo algum, facto de menor importância. Agora que a Caminho foi comprada pelo Rupert Murdoch dos pequeninos, Paes do Amaral, como se sentirá o anti-capitalista Saramago?
Estaremos condenados à concentração editorial, com o consequente empobrecimento da oferta? É o que parece estar a acontecer, e quando vemos o assalto que os grandes grupos estão a fazer a editoras que se destacam pela sua independência e diversidade, como é o caso da Teorema ou Relógio d'Água, é caso para recear o que aí vem. Sabemos que a dimensão do mercado espanhol permite que este funcione de modo bastante mais dinâmico que o mercado português, mas há sempre espaço para uma edição guiada por critérios que não sejam puramente economicistas. O esforço de manter a língua portuguesa viva pode passar muito por aqui (e basta ver a aposta que continua a existir, em Espanha, nas edições em catalão e nas outras línguas das regiões autónomas, por exemplo). Traduzir tudo o que está por traduzir, apostar em autores de língua portuguesa, o caminho possível contra as tendências globalizantes do mercado e a pressão mais ou menos intensa dos iberistas. A língua pode ser uma trincheira.
Não adianta especular sobre o dislate de José Saramago acerca do iberismo - o homem tem todas as razões para querer ser espanhol. Dá para ver que do outro lado da fronteira Saramago é quase um autor espanhol. Em todos os escaparates das livrarias espanholas se encontra pelo menos o último livro dele, "As Pequenas Memórias", que já saiu quase há um ano; e o resto da obra também se encontra facilmente. Mais facilmente do que em muitas livrarias portuguesas, de resto. O prémio Nobel, deve-se, em grande parte, à projecção que ele começou a ter nos países de língua espanhola - e falamos de um mercado de algumas centenas de milhão. Além disso, tem de agradecer a Espanha a maior das oferendas - encontrar o amor no último terço de vida; para um escritor, não é, de modo algum, facto de menor importância. Agora que a Caminho foi comprada pelo Rupert Murdoch dos pequeninos, Paes do Amaral, como se sentirá o anti-capitalista Saramago?
Estaremos condenados à concentração editorial, com o consequente empobrecimento da oferta? É o que parece estar a acontecer, e quando vemos o assalto que os grandes grupos estão a fazer a editoras que se destacam pela sua independência e diversidade, como é o caso da Teorema ou Relógio d'Água, é caso para recear o que aí vem. Sabemos que a dimensão do mercado espanhol permite que este funcione de modo bastante mais dinâmico que o mercado português, mas há sempre espaço para uma edição guiada por critérios que não sejam puramente economicistas. O esforço de manter a língua portuguesa viva pode passar muito por aqui (e basta ver a aposta que continua a existir, em Espanha, nas edições em catalão e nas outras línguas das regiões autónomas, por exemplo). Traduzir tudo o que está por traduzir, apostar em autores de língua portuguesa, o caminho possível contra as tendências globalizantes do mercado e a pressão mais ou menos intensa dos iberistas. A língua pode ser uma trincheira.
[Sérgio Lavos]
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