João Miguel Tavares, no DN, parece que descobriu o rastilho perdido. Diz ele que os analistas erraram na sua previsão de que a rua áraba iria explodir novamente, após as palavras de Bento XVI, em consequência da aliança indirecta que o Vaticano tem mantido com a causa islâmica. Compara a posição pacifista do Sumo Pontífice com a posição que a esquerda tem mantido ao longo dos anos. Talvez sem que se tenha apercebido, João Miguel Tavares desvendou os meandros do pensamento desta direita que range os dentes em defesa do choque das civilizações (é ele que refere isto). E escrevi bem, defesa do choque das civilizações; não estou a falar de uma hipotética e publicitada defesa dos nossos valores culturais. Porque os nossos valores culturais não passam pela agressividade aberta em relação a uma religião e à sua cultura, não passam por um militarismo acéfalo e de índole fascista, não passam pela constante generalização que se faz em relação aos países islâmicos. A direita que acirradamente defende um progressivo afastamento entre dois mundos, a hostilização aberta do outro, nunca poderia entender as palavras da maior parte dos líderes islâmicos, sejam religiosos ou políticos, apaziguando os protestos iniciais da "rua islâmica" (aceitamos esta abstracção idiota?). Não interessa saber que as manifestações que continuam a acontecer são politicamente manipuladas e representam apenas uma minoria da população nos países onde têm surgido. Uma boa opinião não precisa da realidade para ser verdadeira.
A defesa do diálogo entre culturas, apesar de desprezada por alguma direita, que se apressou a colocar todos estes "bons sentimentos" no saco do horroroso "politicamento correcto", continua a ser, imagine-se, uma atitude eticamente intocável. E, veja-se lá, é a única via que leva à harmonia e ao fim de qualquer conflito cultural ou religioso. Mas, como já percebi pelo acumular de provas nesse sentido, não é esse o objectivo final dos que defendem com unhas e dentes a tese do "choque de civilizações". A paz? Intervalo entre duas guerras.
[Sérgio Lavos]
A defesa do diálogo entre culturas, apesar de desprezada por alguma direita, que se apressou a colocar todos estes "bons sentimentos" no saco do horroroso "politicamento correcto", continua a ser, imagine-se, uma atitude eticamente intocável. E, veja-se lá, é a única via que leva à harmonia e ao fim de qualquer conflito cultural ou religioso. Mas, como já percebi pelo acumular de provas nesse sentido, não é esse o objectivo final dos que defendem com unhas e dentes a tese do "choque de civilizações". A paz? Intervalo entre duas guerras.
[Sérgio Lavos]
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