Hoje é o único dia da semana em que não compro o Público. Não era assim, mas passou a ser, quando o suplemento Mil Folhas começou a fazer companhia ao Y, numa jogada descarada de concorrência com o suplemento misto (literatura e música) 6ª, do DN. Agora, compro os dois jornais às sextas e tenho várias horas de leitura pela frente, mas a dispersão agrada-me porque concentra as actividades que tenho a cumprir em cada um dos dias. Ao Sábado, leio o DN, jornal que continuo a achar que está uns furos abaixo do Público, se nos cingirmos ao caderno principal, apenas porque a revista NS tem o interesse extra de ler as crónicas de Pedro Mexia (um ano são sete em vida de blogue, parabéns), as de António Sousa Homem que, diga-se de passagem, ainda não confirmei ser quem me dizem ser (não é importante, de resto; a qualidade da escrita, mesmo que ficcionada, basta-me), e, finalmente, os apontamentos futebolísticos de Joel Neto.
Interessa-me falar de Joel Neto porque ele é dos poucos, em Portugal, a escrever com estilo sobre bola. Parece que é também romancista, mas não conheço. Mas seria suficiente lê-lo, e ao seu humor deslocado, tentando fugir a cada frase aos clichés do jargão futebolístico. (Luís Freitas Lobo, revelado ao grande público durante o Mundial, é diferente: fala de futebol como ninguém, como um técnico com paixão e com uma cultura inatacável sobre o assunto; mas não tenta ser literário - não deve ser essa a sua intenção). Na semana passada, julgo, questionava Joel Neto, em curta nota, o silêncio dos jornais desportivos em relação ao processo do "Apito Dourado". Por que razão não eram manchete nos jornais especializados todas as revelações sobre escutas e afins que têm sido publicadas nos jornais generalistas. Não passa de uma pergunta, mas José Diogo Quintela desvenda no blogue Gato Fedorento um pouco mais da mancha. Arrepiante. A confissão do director do Record é das coisas mais baixas que tenho lido nos últimos tempos. É claro que temos a opção de simplesmente não ler jornais desportivos. Mas será que é normal um director admitir que não revela cachas jornalísticas (a que ele chama "lixo dos tribunais") por razões tão transparentemente vergonhosas como sejam a defesa da actividade que alimenta essa espécie de jornais que nada têm de jornalístico? Será que os jornalistas que se recusam a divulgar notícias negativas sobre os clubes e dirigentes por razões de protecção da mão que os alimenta podem manter a sua carteira profissional, continuarem a ser considerados jornalistas? A qualidade de escrita nestes jornais piorou de forma decisiva nos últimos anos. O patriotismo saloio é enjoativo, a clubite aguda repugnante. Quando Alexandre Pais admite que o sistema inclui os jonais desportivos, sabemos que dificilmente haverá mudanças no futebol que temos em Portugal. A corrupção é institucional, e o quinto poder demitiu-se das suas funções. Um carnaval de misérias.
[Sérgio Lavos]
Interessa-me falar de Joel Neto porque ele é dos poucos, em Portugal, a escrever com estilo sobre bola. Parece que é também romancista, mas não conheço. Mas seria suficiente lê-lo, e ao seu humor deslocado, tentando fugir a cada frase aos clichés do jargão futebolístico. (Luís Freitas Lobo, revelado ao grande público durante o Mundial, é diferente: fala de futebol como ninguém, como um técnico com paixão e com uma cultura inatacável sobre o assunto; mas não tenta ser literário - não deve ser essa a sua intenção). Na semana passada, julgo, questionava Joel Neto, em curta nota, o silêncio dos jornais desportivos em relação ao processo do "Apito Dourado". Por que razão não eram manchete nos jornais especializados todas as revelações sobre escutas e afins que têm sido publicadas nos jornais generalistas. Não passa de uma pergunta, mas José Diogo Quintela desvenda no blogue Gato Fedorento um pouco mais da mancha. Arrepiante. A confissão do director do Record é das coisas mais baixas que tenho lido nos últimos tempos. É claro que temos a opção de simplesmente não ler jornais desportivos. Mas será que é normal um director admitir que não revela cachas jornalísticas (a que ele chama "lixo dos tribunais") por razões tão transparentemente vergonhosas como sejam a defesa da actividade que alimenta essa espécie de jornais que nada têm de jornalístico? Será que os jornalistas que se recusam a divulgar notícias negativas sobre os clubes e dirigentes por razões de protecção da mão que os alimenta podem manter a sua carteira profissional, continuarem a ser considerados jornalistas? A qualidade de escrita nestes jornais piorou de forma decisiva nos últimos anos. O patriotismo saloio é enjoativo, a clubite aguda repugnante. Quando Alexandre Pais admite que o sistema inclui os jonais desportivos, sabemos que dificilmente haverá mudanças no futebol que temos em Portugal. A corrupção é institucional, e o quinto poder demitiu-se das suas funções. Um carnaval de misérias.
[Sérgio Lavos]
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