Não tinham uma música - tinham um filme. Antes da derrota tão pacientemente adiada, viram-no em conjunto, altas horas da noite numa sala quase vazia. Era uma reposição. E era como se fosse uma repetição de um filme dos anos cinquenta, velhos êxitos cantados por Nat King Cole e planos desenhados no vazio das ruas. Filmava-se a distância entre dois corpos e as alusões mínimas que existiam entre eles: as mãos, sobre a mesa; os olhos, fixos no que estava fora do campo de vista; os gestos, rituais discretos e significativos, a ordem quotidiana insinuando-se aos poucos na extraordinária história de amor que os dois negavam. A comida, de boca a boca, trocada entre as paredes de um quarto. Nos corredores, nas ruas, o jogo lento da sedução dançado no compasso ultrapassado de um tempo enredado em melancolia.
Não tinham uma música, tinham um filme. Quando o actor, antes do the end definitivo, se deixava embalar pelo fracasso e trancava dentro de uma árvore morta o único segredo que devia ser contado ao mundo, começou a chover lá fora. E enquanto abordavam a rua, cediam ao encanto da beleza pura. Tal derrota acendia outra derrota: a entrega a um amor, a uma floresta de mil clareiras perdidas.
[Sérgio Lavos]
Não tinham uma música, tinham um filme. Quando o actor, antes do the end definitivo, se deixava embalar pelo fracasso e trancava dentro de uma árvore morta o único segredo que devia ser contado ao mundo, começou a chover lá fora. E enquanto abordavam a rua, cediam ao encanto da beleza pura. Tal derrota acendia outra derrota: a entrega a um amor, a uma floresta de mil clareiras perdidas.
[Sérgio Lavos]
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