O escritor que mais se aproxima da verdade é aquele que prefere esquecer a escrita. Será necessário colocar a questão? Porquê? Susan Sontag achava que os escritores que assim procedem são movidos por um instinto que acaba por ser criativo. No seu silêncio, cumprem a obra. As palavras de Blanchot, circulares, respondem ao apelo de Sontag: "A essência da literatura é o desaparecimento". Será então a criação uma desistência activa, uma recusa metafísica, um gesto que simula a ausência de gesto, o não-gesto. A constatação desta verdade é aterradora. Um silêncio que questiona directamente os que ainda não se calaram. A perturbação que a personagem de Melville, Bartleby, provoca na superfície estagnada do mundo é imprevisível. "Prefiro não o fazer". A história desliza então para um final aberto, para sempre perdida nas mãos do leitor.
[Sérgio Lavos]
[Sérgio Lavos]
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