18/09/06

O Expresso do Sol nascente

Nas últimas semanas, vários indicadores económicos apontam uma saída para a crise. Aos habituais, do FMI ao Banco de Portugal, passando pela OCDE, poderíamos acrescentar a maravilha da luta entre o novo Sol e antigo Expresso remodelado. Na semana passada, 150 mil portugueses não se importaram de pagar 2,80 euros por um jornal significativamente mais fraco do que aquele que era antes oferecido - mas, é claro, havia o extra não desprezável de termos Scarlett Johansson a deambular por Tóquio e Quioto à nossa mercê. Esta semana, mais 150 000 compraram a nova criação do arquitecto Saraiva e duzentos mil esgotaram a edição do Expresso - com mais um excelente filme, de resto. O Sol custa dois euros. O Expresso, como já referido, 2 e 80. A maior parte dos portugueses que compraram um, também adquiriram o outro. O que antes demorava pelo menos meia semana a ler agora irá ocupar uma semana inteira, para prejuízo do convívio familiar e da produtividade laboral. Ou não? Na verdade, não. Se antes o Expresso já se evidenciava pelo excesso informativo, pela redundância, agora conseguiu o milagre da redução de conteúdos com a mesma aparência de excesso. Sobre o Sol, não me posso pronunciar, dado que nem chegou a entrar no meu local habitual de compra (e não achei demasiado importante deslocar-me em busca de tal astro tablóidico), mas o que tenho lido não me parece animador - muita futilidade, pouco sumo, com um suplemento cultural sem a qualidade que a revista Actual ostenta - e ainda bem para o Expresso que por ali ficaram nomes como António Guerreiro e Joaquim Manuel Magalhães. O projecto de raiva de José António Saraiva tem pernas para andar; por cansaço e pelo progressivo facilitismo do público no seu gosto e na sua procura de informação.
O Verão foi árduo - as operadoras turísticas queixaram-se da quebra geral nas viagens para o estrangeiro. Mas o Outono traz com ele um novo contentamento. Quase cinco euros depois, algumas horas perdidas a ver filmes gratuitos e dias a fio preenchidos na leitura dos dois jornais, podemos sentir a insustentável leveza dos portugueses no ar. Estamos no bom caminho.

[Sérgio Lavos]

Sem comentários: