10/01/08

Jesse James


O assassínio de Jesse James pelo cobarde Robert Ford é um título tão longo quanto o filme mas com aquela qualidade de imagem, não me importaria de ver as quatro horas (?) inicialmente previstas. O facto de ter sido reduzido, ou a inicial má planificação da narrativa, prejudica o filme; em algumas cenas sente-se que falta continuidade ou, pelo menos, uma indicação mais concreta que mostre as razões do clima de desconfiança e traições que predomina entre as personagens.
As referências cinematográficas são muitas, criando um pastiche de diversos géneros: o enquadramento central da porta para o exterior de Ford; o sossego de um campo de feno de Malick; as paisagens brancas cobertas de neve dos Cohen [substituindo os desertos típicos]; a nível narrativo, é um pouco ingénuo, caindo mesmo na armadilha habitual da adaptação de livros: o narrador vai contando a história, repetindo o que já é evidente só pelas imagens. Mas, cumpre na perfeição o que é necessário para criar um ambiente onírico ao modo de Malick: todos os pormenores foram captados, a passagem das nuvens, as partículas de luz, a mínima poeira, etc.
Casey Affleck consegue fazer com que a personagem de Robert Ford, um verdadeiro totó de voz esganiçada e insegura, não ultrapasse os limites do aceitável. Incrivelmente, Sam Sheppard desaparece passados 20 minutos (tem apenas um pequeno papel no início, quando o grupo prepara o último assalto).
Mas este Jesse James tem uma temporalidade, ou um modo suave de duração (do olhar que tem tempo para observar), o modo com que Andrew Dominik vai contando a história de Jesse e de Robert, digno de nos levar ao cinema. A cena inicial é de longe a minha favorita [não só porque os comboios fazem parte de um imaginário pessoal ( não só nos westerns)], graças ao contraste entre a escuridão e a luz; quando o comboio chega, primeiramente anunciado nos carris, vai iluminando o bosque e enche de fumo a floresta onde aguardam os assaltantes. O mérito vai todo para a imagem de Roger Deakins e para Jesse James que, segundo Ron Hansen (o autor do livro), continua a dar lucro.

[Susana Viegas]

3 comentários:

Anónimo disse...

Não vi. Quero muito ver. Acredito que valha a pena, por tudo o que tenho lido e porque Deakins é dos melhores directores de fotografia a trabalhar hoje. Tenho é a banda-sonora, do Nick Cave e Warren Ellis. Excelente, funciona tão bem no filme como no leitor de cds?

Susana Viegas disse...

tens toda a razão, queria referir a banda sonora mas esqueci-me (Nick Cave é também actor numa cena). é muito boa e resulta com a imagem.vai ver e dá-me a tua opinião.

FlorGrela Estampa disse...

Também recomendo o filme.
Má, má, só mesmo a tradução, que é pobre e muitas vezes enganadora.
Para quem conseguir acompanhar o texto em inglês aconselha-se a que o faça.