07/01/08

Um pouco de aritmética

Não sei se repararam (isto é retórica, ignorem) mas não fiz um balanço dos livros lidos no ano que passou. Bem sei que não interessa a ninguém (não de certeza a quem vem aqui parar à procura de "fotografia sacanagem onanismo"), mas gostaria de explicar o seguinte: tudo o que li o ano passado provavelmente não foi publicado o ano passado (correndo o risco de me ter esquecido de quase tudo o que li; e não aponto). O primeiro livro de 2007 é Doutor Pasavento, e estou a acabar de ler agora (não agora, enquanto escrevo, claro, à minha frente tenho dois livros do Luiz Pacheco, o terceiro que me lembro de comprar não o encontro, e ando à pesca de uma citação que, pelo andar da carruagem, não vou publicar). Mas comecei a ler muita coisa que não terminei, decidi-me especializar nisso, dada a minha experiência de vida. Li no outro dia que bastavam as primeiras linhas para se perceber se vale a pena avançar na leitura de um livro. Não precisava de ter lido tal banalidade, a minha experiência teria sido suficiente (mas fica sempre bem escrevermos que lemos qualquer coisa para corroborar o que dizemos). Portanto, muita coisa má me passou pelas mãos; ou então não percebo nada disto; ou então o trabalho que faço cansa e por isso nem Joyce nem Bergman entram nas contas do meu rosário. Curiosamente, fui lendo, bastante fluido, um ensaio de que vi excelentes referências, e avancei, avancei, até chegar a meio e perceber que o livro não acrescenta nada ao que eu já sabia. Não que eu soubesse muito antes, mas o livro chove não molha, e a desilusão tardia quase que vai levando a melhor à minha decisão de terminar a coisa (mais tarde direi de que livro falo; ou escrevo sobre ele; veremos). Deste modo, designo como livro do ano, de entre os publicados em 2007, Boca do Inferno, do Ricardo Araújo Pereira. É o livro do ano porque foi o único livro do ano passado - e nem me venham falar em Sebald, ou Kafka, ou (espreito por cima do ombro para ver as pilhas dos lidos), Doris Lessing. Não, agora a sério: é mesmo o melhor livro novo que eu li no ano passado. Mesmo tendo lido outros (na pilha vejo Jorge de Sena, Dexter, ambos de 2007, e outros que não são; o primeiro gostei, o segundo é fraco, quando comparado com a série).
Reformulo: li mais livros publicados em 2007 do que tinha escrito ao início; do que tinha pensado ao início. O que significa uma de duas coisas: a minha memória é má; a minha memória é selectiva, destacando os melhores do ano automaticamente. O primeiro livro de 2007 (Vila-Matas) é portanto o quarto ou o quinto; pouca sorte.
A anarquia é esteticamente perfeita, quando falamos de livros. Em 2008, quantos livros de 2008 não lerei? E quantos do ano que passou? Fica para o próximo balanço.

[Sérgio Lavos]

4 comentários:

tlpg disse...

Posso estar enganado, mas pareces-me em baixo (pelo menos, falsamente). Se isto ajuda, sou ainda mais literariamente impotente do que tu. Contudo, são cinco da matina, estou com insónias e apetece-me falar nalgum lado dos livros de 2007 que li: Época de acasalamento, Wodehouse, Criadores, Paul Johnson, Os filmes da minha vida (2º volume), sabes quem.

Um abraço,
Tiago.

Anónimo disse...

ficamos à espera


A SEIVA

André Moura e Cunha disse...

Então o McEwan? Tenho a certeza de que o leste.
E o último de DeLillo? Não acredito que o tenhas perdido...
Abraço

Sérgio Lavos disse...

Tiago:

fala, fala. Da tua lista, tenho para ler os Criadores, na pilha dos adiados, li parte do 2º volume do tal, Woodehouse ainda não me interessou (mas gostava do Jeeves & Wooster com o Stephen Fry e o Hugh Laurie).

André:

confesso que escrevi o post sem tentar sequer me lembrar de tudo o que li em 2007. Claro que li o McEwan, até escrevi sobre isso e tudo (estavas atento). Já Don de Lillo, não. Comecei a ler um mais antigo, Americana, a adiei (tinha outras leituras em mão). E li mais, li, continuo a não querer ser exaustivo. É muito bom querer parecer espontâneo com um caderno ao lado. Eu nao posso ser, porque não aponto nada, confio na memória (e isto é verdade). Como é verdade prometer todos os anos tomar nota destas coisas todas - nunca cumpro.