Caro Bruno,
pois é precisamente aquilo que dizes ser diferente no pensamento de Judith Butler que me leva a afirmar que ela nunca sai do círculo vicioso dos géneros. Simplesmente questiono se será sensato combater a hegemonia da norma heterossexual (recuso colocar entre parêntesis o termo heterossexista porque este pressupõe um preconceito em relação à heterossexualidade), deslocando comportamentos sexuais que se fundam nas diferenças de género de um sexo para o outro - as gloriosas descrições que Butler faz dos rituais transgender não revolucionam, não derrubam estereótipos. A forma de luta que Butler escolheu para combater a hegemonia heterossexual passa pela afirmação do óbvio: que existem comportamentos associados ao sexo masculino e ao sexo feminino a que o ser humano nunca conseguirá escapar. Trocar as voltas às coisas, mudar as cadeiras de sítio, não elimina os hábitos de séculos, milénios. A terceira via não é coisa que interesse a Butler; um terceiro sexo que sublimasse os "constragimentos constitutivos" não é possível, se acreditarmos que sexo e género estão imbricados à nascença. Neste ponto, se aceitarmos o que Butler diz, o que será mais razoável: o combate pelo direito de perpetuar estes constragimentos culturais e biológicos, ou um que aceite as diferenças de sexo abolindo as diferenças de género? No fundo, aceitar que uma mulher possa ser feminina tendo o mesmo poder que um homem, ou um homem ser masculino sem que, por isso, se possa colocar a si próprio num patamar superior à mulher?
[Sérgio Lavos]
pois é precisamente aquilo que dizes ser diferente no pensamento de Judith Butler que me leva a afirmar que ela nunca sai do círculo vicioso dos géneros. Simplesmente questiono se será sensato combater a hegemonia da norma heterossexual (recuso colocar entre parêntesis o termo heterossexista porque este pressupõe um preconceito em relação à heterossexualidade), deslocando comportamentos sexuais que se fundam nas diferenças de género de um sexo para o outro - as gloriosas descrições que Butler faz dos rituais transgender não revolucionam, não derrubam estereótipos. A forma de luta que Butler escolheu para combater a hegemonia heterossexual passa pela afirmação do óbvio: que existem comportamentos associados ao sexo masculino e ao sexo feminino a que o ser humano nunca conseguirá escapar. Trocar as voltas às coisas, mudar as cadeiras de sítio, não elimina os hábitos de séculos, milénios. A terceira via não é coisa que interesse a Butler; um terceiro sexo que sublimasse os "constragimentos constitutivos" não é possível, se acreditarmos que sexo e género estão imbricados à nascença. Neste ponto, se aceitarmos o que Butler diz, o que será mais razoável: o combate pelo direito de perpetuar estes constragimentos culturais e biológicos, ou um que aceite as diferenças de sexo abolindo as diferenças de género? No fundo, aceitar que uma mulher possa ser feminina tendo o mesmo poder que um homem, ou um homem ser masculino sem que, por isso, se possa colocar a si próprio num patamar superior à mulher?
[Sérgio Lavos]
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