Morreu Luiz Pacheco, que não era libertino, nem libertário, repetiu-o muitas vezes. Insistiam nisso, e ele sempre negou. O "toma" que ele aparece a fazer numa das fotografias mais conhecidas é dedicado ao país em que viveu. O anti-autor, o anti-resistente, o homem que poderia ter sido, mas não foi. No seu tempo, escrevia como poucos, meia-dúzia que também já desapareceu. Neste tempo, ninguém escreve como ele, no seu modo de adiar a literatura, escrever apenas pelo gesto, a estética da escrita. Sem pedir consagrações ou honrarias, prémios ou idolatrias. Deixou pouco, escreveu o que conseguiu escrever - porque escrevia apenas o que a sua liberdade permitia; nunca o que os outros esperavam dele; e os outros nunca esperaram muito dele. Se resistir, deverá isso à literatura. A vida não lhe podia exigir mais nada.
[Sérgio Lavos]
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