26/06/07

Days of Heaven (2)

Days of Heaven é um filme tão belo como o descrevem. De 1978, nomeado para 4 Oscares, e com a fotografia da responsabilidade de Nestor Almendros e banda sonora de Ennio Morricone, Days of Heaven é um daqueles filmes onde a palavra "metafísico" não nos sai do espírito. (Recentemente, Sokurov enveredou por esta linha estética filmando personagens e ambientes como se pintasse fotogramas de forma expressionista.)

Filmado em 70mm, tem a marca da mestria de Terrence Malick, realizador texano que apenas realizou 4 filmes em 30 anos. Formado em Filosofia (e foi professor no M.I.T.), Terrence Malick foi aluno de Stanley Cavell (filósofo do cinema autor de The World Viewed) e tradutor de Heidegger, filósofos que acabaram por marcar a sua visão do mundo. No entanto, e após o sucesso que foi Days of Heaven, Malick retirou-se e durante 20 anos não deu notícias até que, em 1998, apareceu com o inesquecível narrador de The Thin Red Line, James Caviezel. (Aliás, a voz off é um elemento importante nos filmes de Malick, sugerindo uma base argumentativa e dando uma consistência às próprias imagens, por vezes bastante abstractas.)

O lado filosófico e o bíblico entram em harmonia para servirem os objectivos de Malick: filmar cada ser humano na sua diferença e no seu carácter único e irrepetível. Nem bom, nem mau, só humano, demasiado humano. O lado profético é uma constância: desde a praga de gafanhotos ao incêndio destruidor, passando pela fragilidade do homem, mortal, com as suas invejas, cobiça, adultério e assassínio. Tudo isto é vivido de forma intensa por Richard Gere (Bill), operário de uma fábrica e obrigado a fugir da cidade por um crime que cometeu, segue num comboio a vapor para o campo acompanhado da irmã, Linda Manz, e Brooke Adams (Abby) acabando por trabalhar para Sam Shepard (the Farmer). A perfeição na captação da imagem é inacreditável, todos os movimentos no campo de trigo, o vento a bater na água do lago, juntamente com a cor, onde o dourado natural do sol e do trigo predomina (conseguido com filmagens ao nascer do sol e ao entardecer), formam um conjunto final que não deixa de surpreender.

Se há uma vontade maior de ver filmes, sempre mais e mais filmes, de uma forma compulsiva, deve ser porque se esperam momentos destes, momentos que perduram na memória como boas lembranças da infância. Este filme é capaz de preencher todos os desejos da cinefilia, todos os encantos que se procuram. Cria uma sensação que permanece para lá do crepúsculo das imagens.

Linda: "He [the Farmer] knew he was gonna die. He knew there was nothing there could be done. You're only on this Earth once. And, to my opinion, as long as you're around, we should have it nice."

[Susana Viegas]

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