19/08/06

Nada, Carmen Laforet

Influenciada pela minha visita a Barcelona, li o impressionante romance Nada de Carmen Laforet, a que foi atribuído o prémio Nadal em 1944. A autora tinha então 23 anos e essa juventude está presente em todo o livro. Andrea decide ir viver com uns parentes para Barcelona com intenção de estudar letras na Universidade, mas esta intenção cedo fica ensombrada pela escura e suja casa que encontra quando, já noite, chega a casa da avó e dos tios. Não se trata da mesma da qual se recordava. A casa da rua de Aribau é uma das principais personagens deste romance, à qual acresce a restante família, brilhantemente criada por Laforet, uma casa sem privacidade ou limpeza, de móveis velhos e partidos onde todas as discussões e sussurros são ampliados. As diversas situações que se geram entre a família ou entre os amigos tornam Andrea uma verdadeira heroína urbana para a qual não basta responder “nada”. Também impressionante é a condição da cidade de Barcelona posterior à guerra civil, dividida entre o presente franquista e o desejo de liberdade, entre a pobreza e o vício do Bairro Chinês e a riqueza dos artistas de Montcada. Hoje, a identificação com Andrea e a loucura da família é imediata. No entanto, lamento não ter lido este livro na minha adolescência - seria imediatamente um livro marcante, como aconteceu com A insustentável leveza do ser. Quando o Nada e a tristeza da existência faziam tanto sentido.

[SV]

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