Don DeLillo ou tem pesadelos com a questão ou diverte-se no seu genial solipsismo. Em todas as entrevistas que li, repete-se: os diálogos, são ou não são inverosímeis? São sardónicos, acelerados, subversivos, cínicos, repletos de referências culturais mais ou menos subtis, megalómanos na sua perfeição formal. Isso tudo. Mas será que as pessoas, na vida real, falam assim? É claro que não é uma verdadeira questão, apesar do escritor já ter dito e repetido que sim, falam assim. O que é mais interessante nos diálogos de Don DeLillo é o seu extraordinário sentido de ritmo. Das suas peças, li Valparaiso, e os ecos de Sam Shepard confirmam a suspeita: o seu treino tem raízes na linguagem do teatro, na difícil relação entre ideia e som, personagem e palavras. Deixarmo-nos ir com as personagens de DeLillo, sentir a língua fluir, equivale a uma encenação tensa de algo que nunca é verdadeiramente afirmado. O cansaço, o tédio, as desilusões da vida: e o esforço que os homens fazem para aliviar o peso de tudo usando o artifício da ironia.
A ironia, suprema conquista da linguagem, a derrota da seriedade da vida. É realista? É apenas a verdade.
[Sérgio Lavos]
A ironia, suprema conquista da linguagem, a derrota da seriedade da vida. É realista? É apenas a verdade.
[Sérgio Lavos]
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