Não queria bater mais no ceguinho, mas voltei-me a lembrar do Daniel Day-Lewis enquanto via o Marítimo-Benfica, o Chalana sentado no banco e depois, em fila, o Rui Águas e o Shéu (Han, desde que pendurou as chuteiras). Ora, o Chalana; decidiu colocar o destro de dois pés esquerdos, Luís Filipe, colado à extrema direita, e o homem do refrigerante disléxico, Sepsi, encostado à extrema oposta, devidamente apoiados pelos dois rafeiros de guarda da casa, Petit e Bynia. Se o raio de acção destes dois últimos conseguisse diminuir o espaço deixado pelos dois extremos, teríamos jogo. Se o Rodriguez conseguisse fingir que é segundo ponta-de-lança durante tempo suficiente, melhor ainda. E o Cardozo, lá na frente, serviria de tabela de basquete para as bolas lançadas pelos companheiros. Óptima estratégia, que dependeria de duas coisas: o retardador na reacção do treinador do Marítimo e o tempo até Luís Filipe perceber que, mesmo jogando a extremo direito, poderia sempre vir cá atrás e não ajudar o Nélson a defender, ou quem sabe provocar um ou outro calafrio para o Edcarlos não limpar. Havia algumas hipóteses. Quer dizer, eu não via o Benfica a jogar desta forma para aí desde os tempos em que o Vítor Paneira rabiava na direita, o traidor Pacheco na esquerda e o João Pinto bailava ali pelo meio, a servir um tosco qualquer que tivesse lá frente (por vezes era o Isaías). O comentador avançou: esta táctica é antiquada. O Chalana manteve-se sereno no banco, pensando em como seria bom que a Ciência tivesse avançado ao ponto de se poder clonar a ele próprio, entrar em campo e avançar para aquela pequena tira de terreno onde apenas microorganismos e grandes jogadores de futebol sobrevivem. É claro que o Benfica perdeu. Perdão, empatou. Apenas quando sairam os extremos e entrou o Rui Costa, não sei se alguém reparou. E o que é que o Daniel Day-Lewis tem a ver com isto? Para além de ter captado a atenção de quem vem a este blogue à procura de textos sobre cinema (haverá alguém?!?), tem tudo. O Daniel Day-Lewis não precisa de um bom filme para brilhar; é como o Rui Costa, que tem sido o principal protagonista de uma fita de terror no último ano e meio; digamos que o olhar dele, ao observar o desempenho dos colegas em campo, compara-se ao estertor do rosto de Jamie Lee Curtis em Halloween. Tirem-me deste filme; com amor. Já os outros actores, precisam, como de pão para a boca, de um Steve Soderbergh que os motive para a transcendência, um Kant dos tempos modernos, da mesma maneira que tornou George Clooney um tipo cool (em Out of Sight e daí para a frente em vários outros) ou Jennifer Lopez mais do que um cepo bem torneado, daqueles que se usam no Natal para enfeitar a mesa da consoada (também, e só, em Out Of Sight). O elenco benfiquista neste momento assemelha-se a uma reunião de velhos actores de Ed Wood, à espera de um génio que os faça brilhar de maneira que não seja cómica.
E chegar a este ponto - servir-me do cinema para falar de futebol - não é apenas preocupante. Uma pontinha de humilhação espreita também por aqui.
Ah! O Chalana poderia ser gajo para transformar o Luís Filipe num Paneira fora de prazo (o que já não era mau) e convencer o Bynia a olhar-se ao espelho e ver o Makelele; por isso é que vai sair do Benfica (ou continuar como adjunto da próxima alma penada). Série Z. Interminável.
(Para compensar, saiu ao Sporting o cromo do Paulo Bento, e parece que a cola é Super 3; é para durar. Bem hajam!)
[Sérgio Lavos]
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