21/09/08

Chemical Brothers/Star Guitar



Confesso que demorou a conversão a música que fosse mais electrónica que os sintetizadores dos Nine Inch Nails ou dos Young Gods; mas falamos de há mais de uma década atrás, águas passadas e estagnadas que nunca moveram moinhos. A primeira banda (?) exclusivamente electrónica a que dei a atenção devida foram os Chemical Brothers, e um especialista dirá que comecei quase pelo fim e pelo mais evidente - não há problema. Ser pop não é necessariamente um defeito, e os irmãos químicos nunca deixaram de prezar essa veia na música que fizeram. E ser pop, no caso dos Chemical Brothers, significa entregar os vocais a uma série de gente conhecida, de Noel Galagher a Richard Ashcroft, passando por Wayne Coyne, dos Flaming Lips, tudo gente estimável. Mas mesmo as músicas exclusivamente instrumentais (ou quase), contaminadas pelo big beat ou pelo house por vezes quase europop, são tudo o que o povo quer: delírios épicos em crescendo, psicadelismo que, prolongado por um DJ numa pista de dança ou numa rave, se aproxima perigosamente do trance (Hey, boy, hey girl, por exemplo).
Quem também ajudou foram os realizadores que foram convidados ao longo da carreira do duo para criar os videos. Se Fatboy Slim precisou de um brilhante empurrão de Spike Jonze (em Praise You), os Chemichal Brothers convidaram o melhor de todos, Michel Gondry. Em Let Forever Be, uma brincadeira com espelhos e uma bailarina multiplicada antecipa Being John Malkovich num ritmo sincopado perfeito. Mas o preferido é Star Guitar, tour de force de montagem que representará um cúmulo na arte de casar imagens com música; além disso, com um tema que se adequa à canção, electrónica etérea e planante, de forma perfeita: as viagens de comboio.

[Sérgio Lavos]

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