20/12/07

Michel Gondry


Há nos videos de Michel Gondry uma vontade de regresso que toca qualquer um agora na casa dos 30, ou prestes a entrar nela. Pode não haver uma identificação completa com os fétiches infantis (nem sempre há paciência para os peluches "qu'iduchos" perseguindo Bjork), mas a verdade é que Gondry consegue mostrar uma criatividade assombrosa na perseguição de uma quimera: um estado de espírito entre sonho e memória de infância (há quem afirme que um e outra não estão assim tão distantes). Nas longas-metragens, o realizador francês conseguiu prolongar o imaginário dos vídeos, consubstanciado na excelente parceria com a imaginação delirante do argumentista Charlie Kaufman, em Eternal Sunshine of the Spotless Mind. Desde a praia de infância até ao mundo visto à escala de uma criança, são várias as imagens marcantes do filme.
As diferenças de escala, a distância entre mundo sonhado e mundo real, a natureza como refúgio das agressões da cidade, as metamorfoses, de criança a adulto, de um objecto noutro, as coreografias de aparência caótica desenhando uma ordem concreta, tudo temas que se reproduzem de video para video. Como neste, um dos meus preferidos, Dead Leaves and the Dirty Ground, dos White Stripes. Ou de como um video pode introduzir uma inovação ao nível da representação de uma ideia cinematográfica. Dois tempos que coincidem, o passado projectado no presente (ou dois presentes existindo simultaneamente), numa solução técnica original que consegue criar uma imagem cristal (duas camadas de tempo sobrepostas) deleuziana. Grande cinema no pequeno écrã: e a música ao nível das imagens.

[Sérgio Lavos]

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